segunda-feira, maio 15, 2006

Queda dos anjos

«Concedida a palavra e feito o silêncio da curiosidade na sala, ergueu-se o morgado de Agra e orou deste feitio:

- Sr. presidente! Os conselheiros dos antigos reis de Portugal, homens de claro juízo e ciência bastante, cortavam os abusos do luxo com pragmáticas, quando os vassalos se desmandavam em trajos, regalos e ostentações ruinosas do indivíduo e, portanto, da cidade. O senhor rei D. Sebastião, que santa memória haja, promulgou justas e rigorosas leis sobre o uso das sedas.

E, naquele tempo, Sr. presidente, Portugal ainda se banqueteava com a baixela de oiro do Pegu: ainda as paredes das salas nobres estavam colgadas de gualdamecins e razes da Pérsia. Era o Portugal, já não robusto nem entusiasta; mas ainda sopitado das embriagadoras delícias dos reinados de D. Manuel e D. João III. Nas Ordenações Filipinas, liv. 5º, t.82, parág. 4º e seguintes, foram incluídas as principais leis da reformação da Justiça de 27 de Julho de 1582.

Lá se vê quão salutar era a vara férrea da lei no castigo dos contumazes em proveito da comunidade. (Um deputado boceja contagiosamente: outros bocejam; e o presidente de ministros tosqueneja.)»

Camilo Castelo Branco


Nós não tivemos uma Revolução Francesa. Somos portugueses, só vivemos a nossa Revolução de Abril. E sangue, só o vermelho dos cravos.

Sempre que ouço falar da nossa revolução pela liberdade, vem-me à memória uma canção que meus filhos trauteavam (era repetida vezes sem conta naquele período revolucionário), de que não sei o nome nem o autor, talvez o Ary. Os seus versos cantavam uma papoila a crescer livre na sua cor, uma criança sonhando ser livre para não combater (Nem mais um soldado para Angola!), uma gaivota voando livre com o coração cheio de paz. Era uma melodia que entrava no ouvido e era bonita como um cravo vermelho.

Nós somos diferentes e, se procurarmos bem dentro de nós, somos diferentes pela positiva e disso sentimos orgulho. Só não sabemos dizê-lo, é isso. É como dizer «amo-te». Há que soltar o que temos dentro de nós, erguer a pá de Aljubarrota e dar cabo dos castelhanos que temos dentro de casa. Basta uma pá e uma mulher. Sem homens com armas de guerra. Que baste a nossa ironia, mas que arrase.

Somos um povo inteligente e devemos exigir que os nossos representantes máximos na política nos respeitem e sejam responsáveis. Responsáveis e competentes. Excluam do hemiciclo os que vão para a política porque não conseguem emprego no final dos cursos e ali pousam porque têm um pai influente. Deixem apenas os mais capazes, os que encaram a política como o seu mister; reduzam o número de deputados para metade. Mais: aumentem-lhes o ordenado para o dobro, porque o merecem, porque representam a nossa vontade, porque defendem os nossos interesses, porque servem com dignidade os seus concidadãos, porque elevam o conceito de política, porque honram o nosso país.

Mas retirem-lhes as mordomias que os fazem sentir diferentes e superiores aos outros trabalhadores (como é? – 12 anos de trabalho+40 de idade = reforma; e eu tenho as mesmas habilitações académicas (mais do que alguns que lá estão), 64 de idade+35 de trabalho e recusam-me a reforma?). Já não há nobres, já não existe sangue azul, está cientificamente provado. Há, porém, nobreza de sentimentos, de civilidade, educação, superioridade pela capacidade de trabalho, de liderança e de decisão.

Ali, reside a responsabilidade máxima. Não deve, não pode haver transgressores. Quem prevarica, tem que ser punido.



1 comentário:

jawaa disse...

Foi mesmo só para responder ao apelo feito por si, TT(vontade de falar e razões há sempre),porque não quero entrar nesses campos de batalha...
Beijinho