Si l'oiseau ne chante pas
c'est mauvais signe
signe que le tableau est mauvais
mais s'il chante c'est bon signe
signe que vous pouvez signer
Alors vous arrachez tout doucement
une des plumes de l'oiseau
et vous écrivez votre nom dans un coin du tableau.
Jacques Prévert
Nada a fazer. Há dias em que o meu canário cá dentro não canta, como diria o menino do Meu Pé de Laranja Lima. Não canta, não voa, mantém-se alheado na sua tarefa de alisar as penas. Posso acenar-lhe com a melhor alpista, com a mais fresca folha de alface, põe a cabecita de lado a olhar-me com aquele olho redondinho e brilhante. Não come.
Então cresce em mim aquela força de Prévert, a vontade imensa de pegar num lápis, desenhar uma gaiola bonita e colocá-la cuidadosamente entre os ramos de uma árvore frondosa, com a porta aberta. Talvez entre por ali um passarinho. Um peito-celeste ou um bico-de-lacre, por exemplo. Também poderia ser um pisco-de-peito-ruivo, daqueles que fazem vénias a agradecer se lhe deixam comida no muro e reclamam estridentemente da chegada do gato ao seu território. Se aparecer algum, pego numa borracha e apago cuidadosamente cada barra de grades da gaiola e deixo o passarinho pousado na árvore, como fez o Jacques.
Mas é preciso que uma ave se chegue e cada vez mais os grandes passarões não deixam que elas povoem os espaços, porque o pouco que sobra no mundo que temos mal chega para eles. «Eles comem tudo e não deixam nada». E também não se deixam apanhar, as gaiolas são só para os mais pequenos.