sexta-feira, novembro 22, 2013

TEMPOS NOVOS


Ah! quando eu voltar...
Hão-de as acácias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei...
A minha alegria enorme de poder
enfim dizer:
               
Voltei!...
Alda Lara

Fotografia retirada da Net



Nasci em África. Na cidade mais linda do grande planalto do centro de Angola, a cidade que não foi aldeia ou vila, já nasceu cidade para ser a capital do Império.

Império, que nome grandioso para um país tão pequeno. Também a Inglaterra, não mais que uma ilha, continua a manter o sonho que não é mais do que isso. Doris Lessing, a escritora a quem foi proposta há alguns anos a honra de se tornar Dame do Império, declinou o título, por negar a existência de qualquer império. Parece inquestionável que o único império que se mantém é o da Língua de um e outro país, semeada pelo mundo, e unificadora na sua variedade.

Portugal viveu em África na memória dos que por lá deitaram raízes, pelos motivos mais diversos. A minha geração cresceu a ouvir falar dos vinhedos e dos soutos, da cor das folhas da oliveira, cresceu na esperança de um dia conhecer o Mondego, as varinas, usar capa e ouvir tocar Paredes, cantar o Zeca Afonso, o Góis, o Camacho. Lisboa era toda ela um monumento, o Algarve não existia. A civilização estava aqui e nós estávamos lá por acidente. Aquilo não era terra «para um cristão viver», os funcionários do Estado tinham direito a uma licença «graciosa» com viagens pagas, para vir recompor a sua saúde durante seis meses em cada quatro anos, seis meses sempre alongados para um ano completo.

A nossa liberdade de jovens começava no dia do embarque para a Metrópole. O princípio da liberdade e o fim do sonho, o acordar para a vida que nada tinha a ver com aquilo que os outros diziam, a sensação estranha de sermos estranhos, a crescer então a capacidade de olhar do alto e perceber como somos grandes e tão fortes para podermos sobreviver entre nós, Portugueses. Porque é certa a dificuldade de sobrevivência em muitos aspectos, apenas porque somos Portugueses, dada a nossa incapacidade para compreendermos e aceitarmos os que são mais do que nós, os que se afirmam depois por méritos lá fora, tantos da Ciência e da Arte e do Desporto, ilustres desconhecidos ou depreciados cá dentro e, mais do que isso, inaceitados por uma maioria cada vez mais inculta, inaceitados pela generalidade dos que são menos dotados.

E são esses menos dotados que gerem agora o destino dos que ficam, condicionados pelo fascínio do dinheiro, repetindo do exterior o que aqui não tem lugar, surdos ao pulsar das gentes, indiferentes ao sofrimento e à angústia dos que não têm qualquer saída. Portugal não é um país pobre. Pobre de espírito é quem governa para as elites pisando o povo.