terça-feira, dezembro 24, 2013

NATAL NOVO

No caminho onde pisou um deus
há tanto tempo que o tempo não lembra
resta o sonho dos pés
                                            sem peso
                                            sem desenho.

Quem passe ali, na fracção de segundo,
em deus se erige, insciente, deus faminto,
saudoso de existência.

Vai seguindo em demanda do seu rastro,
é um tremor radioso, uma opulência
de impossíveis, casulos do possível.

Mas a estrada se parte, se milparte,
a seta não aponta
destino algum, e o traço ausente
ao homem torna homem, novamente.

Carlos Drummond de Andrade





Pousa sobre a noite da Consoada um vento feroz, fustigando tudo o que se atreve a colocar-se-lhe na frente. O vento senhor de uma vontade sem freio, Eolo passado à história, não há deuses que o segurem.


Aos homens fenece a vontade de erguer a fogueira que em tempo foi farol das gentes do lugar, foi farol para mim de um tempo já quase sem memória. 


Alterar rotinas tem de ser o nosso destino terrestre, um dia pediremos contas aos deuses quando nós fizermos parte do Olimpo, já sem corpo, e vivos apenas enquanto alguém de entre os que ficam deixar religiosamente aquele cálice e o vinho generoso aberto para que possamos descer ao ninho antigo. 


Para que possamos silenciosamente trazer um pouco de paz aos que estão inquietos, para que possamos enxugar o pranto que desce pelos olhos enrugados, o pranto que ilumina os olhos já baços. 


Para que possamos abençoar os meninos novos.