How many times can a man turn his head
And pretend that he just doesn’t see?
How many ears must one man have
before he can hear people cry?
How many deaths will it take till he knows
that too many people have died?
The answer, my friend, is blowing in the wind
The answer is blowing in the wind…
Bob Dylan
Não é a primeira vez que a África em que nasci me acontece de forma inusitada.
Desta vez, foi no filme O Fiel Jardineiro (baseado num romance de John Le Carré) de Fernando Meirelles, que a imensidão da paisagem africana se abriu para mim em toda a sua intensidade e encanto e, na mesma proporção, na crueza da sua enorme fragilidade.
Puxando os cordelinhos no palco de marionetas, a ganância, a falsidade, a luxúria. No outro extremo, o idealismo, o amor e a fidelidade, a pureza de sentimentos; a confiança, que não mora no mesmo departamento da lucidez quando a falta de sinceridade abre espaço para a dúvida, em situações de beleza ímpar, pequenos quadros de imagens magníficas que sugerem todas as interpretações.
Sei que o filme já não é muito recente, mas recentes se mantêm as questões sociais e políticas num continente continuamente massacrado por todas as formas possíveis de corrupção e desumanidade. O título surgiu-me apenas familiar, mas revelou-se uma surpresa, encantou-me por todos os motivos que associo a largos minutos de evasão do quotidiano que caracteriza a vivência de um europeu médio, preocupado com simples contrariedades que lhe alteram a serenidade dos dias. É um libelo, uma acusação ao mundo de que faço parte e deveria envergonhar-me.
É sobre a impotência dos bons.