Liberdade, liberdade
Quem na tem chama-lhe sua
Eu não tenho liberdade
Nem p’ra pôr um pé na rua
Quadra popular
Liberdade é uma palavra longa e esbelta. Tem quatro sílabas para se espreguiçar na boca e é bonita de pronunciar.
Mais difícil será explicá-la e mais ainda utilizá-la, usufruir dela. Parece fácil mas não é.
À partida, liberdade aparece como aquela varinha mágica que possibilita tudo o que desejamos, mas logo a seguir percebemos que não é bem assim, ela acaba bem perto, quando invadimos a liberdade do outro. Pessoa, bicho, planta. Até uma pedra. Quando se é professor por quatro décadas, fica-se com a ideia de que liberdade é muito mais dar do que receber. Dar liberdade, ensinar a liberdade, isso é liberdade, a que nos dá prazer e aos outros. Se soubermos dá-la, se nos adaptarmos à liberdade dos outros, mantemos a nossa e não nos beliscamos. Ensinar liberdade é falar de deveres e não só de direitos.
E quando no presente se impõem deveres e se coarctam direitos, se reivindicam direitos e não se cumprem deveres, se as instituições – a Justiça principalmente – que asseguram a liberdade, não funcionam com a celeridade e a independência que a democracia lhes confere, quando aqueles que foram eleitos para defender os nosso direitos – na Assembleia da República – usam o direito que lhes demos para o usarem apenas em proveito próprio, a liberdade fica sem poiso.
Estas considerações não tiram o lugar ao Dia da Liberdade que está a chegar. Um grande dia para os portugueses, visto de muitas perspectivas e bem diferentes. Eu queria aqui congratular-me pelo facto de ter sido o dia em que acordámos para outorgar a liberdade a todos os povos dos países que hoje procuram manter-se de pé, outros começam a erguer-se, periclitantes, poucos ainda se afirmam já com orgulho de terem com Portugal uma História comum.
A Revolução dos Cravos é um nome que permanece e nos deve encher de orgulho.
Os cravos do nosso Abril são vermelhos e deviam ser distribuídos, soltos por aí, por todas as ruas, e quem os cultiva deveria libertá-los para quem passa. A cor é de festa, de paixão e de sangue. Festa porque aconteceu, paixão porque apaixonou os homens tanto da guerra como do povo, sangue porque ele correu em todas as frentes. Poderia ter sido evitado.
Ficam os cravos para nos fazer recordar.