terça-feira, julho 31, 2007

Férias...

"Eu escrevo por necessidade de escrever, porque para mim é a procura de um espaço de libertação, um espaço que transcende as limitações da existência as suas contingências, as suas vicissitudes e é o encontro com o espaço, se for possível, de serenidade, de tranquilidade, de eliminação; é um espaço que de certa maneira se relaciona com o cosmos, com a terra: É por isso uma relação com a terra no sentido em que esta pode ser ainda uma espécie de origem, de espaço em que o homem respire.""A poesia tem sido para mim uma forma de libertação. Não se pode dizer que seja uma expressão simples, fácil, o que a poesia procura é algo que de certa maneira ela não consegue admitir. Quer dizer, a finalidade do poeta é escrever, criar um texto que tenha uma certa coerência, que tenha a coerência da incoerência (como diz um crítico francês). Mas é o que está para além das palavras, é o horizonte das palavras e é realmente o que é fundamental. Não só as palavras poéticas me fascinam mas aquilo para que elas apontam, o horizonte para que apontam, o espaço para que elas se dirigem é que é realmente a realidade imaginária e real; essa é que é a finalidade porque há em nós algo que é indefinível, incomunicável e indescritível. O poeta pode suscitar a possibilidade de tornar actual (no sentido real) certas virtualidades, que se concentram no desejo do homem, numa espécie de corpo que ele quer encontrar, como que penetrar nesse corpo /uma criação, mas também uma realidade exterior, cósmica)."

António Ramos Rosa, numa entrevista concedida a Patrícia Valinho a 20-11-1986



«Roubei» daqui...

quinta-feira, julho 26, 2007

CRIANÇA

«Está quase fazendo um ano certo, Iemanjá. É tempo de trazer de volta o meu menino… (leva a mão direita à altura do ouvido, como se escutasse) Está bem, está bem, eu compreendo. Não é todo o dia que aparece no fundo do mar um caboclo como o meu Juca, mas, que diabo, ele podia pelo menos vir passar as festas em casa… Outro dia eu acordei no meio da noite sentindo que o Juca estava querendo falar comigo. Botei no ouvido o caramujo grande que apanhei em São Conrado e de primeiro pensei que não ia ouvir a voz dele. Só tinha aquele barulhinho de mar manso. Depois a voz do Juca veio vindo lá do fundo dos fundos, meio enrolada, meio assim de mar grosso, meio verde, mas depois estourou clarinha no meu ouvido feito uma onda que levanta os peitos e – tcháaa – rebenta com franqueza na praia.»

António Callado



Criança é um nome de tal modo profundo que dele deveriam ter derivado bem mais nomes, adjectivos, verbos, advérbios, do que os conhecidos. E, principalmente, esses parcos deveriam ser destituídos de algum sentido pejorativo: ter um ar acriançado é algo reprovável, não adaptado ao que seria de esperar de um adulto. O adulto de Saint Exupéry? Les grandes personnes ne comprennent jamais rien toutes seules, et c’est fatigant, pour les enfants, de toujours et toujours leur donner des explications...

Afinal, criança é o ser puro de Rousseau, ainda não contaminado pela sociedade reinante, não tem subterfúgios, não tem medo. O medo, a mentira, dita própria das crianças, vem da sua sagacidade, a autodefesa que se manifesta desde cedo para poder sobreviver no mundo dos adultos.

Quanto ao adulto, ele é tanto mais sedutor, tanto mais interessante, encantador, quanto mais se aproxima do que nunca deverá ter perdido: a simplicidade da infância.

Para alguns é muito difícil voltar às origens. Para muitos, a sua memória marcou-se adulta demasiado cedo, não podem, não sabem, não conhecem. Outros há, porém, que nunca dali saíram, nunca foram além da criança que está dentro, qual felino doméstico que roda pelos telhados, vasculha os tambores do lixo, capta os pássaros no voo, investe sobre as lagartixas e saltaricos dos matos. Mas breve regressa, cândido, cativante, ronronando um mimo, de cauda coleante entre as pernas de quem lhe assegura o sustento.

A criança interior de que fala a Luíza vive dentro de nós e é saudável que assim aconteça, faz-nos bem à alma. Porém, como adultos que somos, há que dourar a nossa criança com a experiência e não acreditar em fadas e duendes, houve tempo para aprender que a Terra do Nunca não existe, não há um carro a puxar o sol, nem há tesouros no fim do arco-íris.

Como já disse antes, sonhar acordado é bonito.

Com os pés na terra, de preferência.

segunda-feira, julho 23, 2007

Tecnologia

«Já seria meia-noite, já uma hora seria

Que um vento se levantou. Plim plão.

No meio da areia fria e feita chão de puro fino cetim

Eu vi.

A noite era escura como esta e como o breu, e eu

Pobre soldado mal pronto de meu cabeçal mal dormido, eu vi.

Desguarnecido de amor e sem madrinha, sem carta, sem bolsinha de

Tesouro

Nem parente neste mundo. Faça com quanta força tiver, Sebastião,

Plão, plão, plão.

Que um vento me disse assim. Ó Edmundo.

Edmundiiinho. Eu venho do outro mundo em busca de ti de ti.

Pssst. Pssssst. Disse eu. Já sei. Plão plim. »


Lídia Jorge






















Sonhar é bonito. É bom quando se está bem acordado, manhãzinha, ainda no quente dos lençóis, a programar a vida do dia que chega. Sempre que isso acontece tudo parece mais sereno e custa menos levantar, mesmo quando faz muito frio lá fora, quando o jardim hiberna, a geada queima, quando sinto mais saudade dos que já me deixaram.

Não é o caso porque este tempo é mais doce, o calor mesmo excessivo conforta-me porque, reconheço, tenho o aconchego de uma casa fresca, não tenho de andar à lida à torreira do sol. O tempo quente fala-me da vida, está cheio de sons desde a madrugada, chilreios a anunciar a luz que vai abrindo o dia.

Pela manhã, abrir a janela e ler. Sonhar acordada também; pensar no que tenho para fazer quando não há horários para cumprir. Ou continuar o sonho da noite, desembrulhado de mentiras mas nimbado duma fantasia que o não é menos, quando a distância enrola em fumo os desconcertos, os medos, as solidões da lonjura.

O Google Earth deu-me a certeza de que a minha casa da fazenda continua de pé, altaneira no fundo da anhara, à beira-rio. Não sei se alguém lá mora, mas consigo vislumbrar a silhueta dela que se vê na foto, aqui onde o telhado tem a marca da sua renovação após ter sido atingido por um raio. O Kussava também. O rio e a pedra lisa onde se parava a meio da viagem, das viagens sem conta que fiz entre a cidade e o paraíso, a quarenta loooongos quilómetros de distância.

É que as estradas, ao tempo dessas fotos, não conheciam o asfalto. E os nove meses de chuvas torrenciais não se compadeciam sequer das pontes de cimento, quanto mais dos caminhos, onde a lama alta fazia ziguezaguear os carros sem controle, deixando para o cacimbo verdadeiras crateras, obrigando os condutores a nunca ultrapassarem o limite de velocidade dos 30 km/hora.

Cada viagem, uma odisseia. Nunca viajávamos de noite. Quando muito, madrugada alta, antes da alvorada, nas longas viagens para Luanda.

Fascinam-me as novas tecnologias.

Pena não ter nascido com um chip contador de milhas, teria com certeza direito a uma viagem à volta da Terra.

domingo, julho 15, 2007

Civismo

«… Beauvoir falava da identidade feminina: uma construção imposta por uma sociedade “falocêntrica” que oprime as donzelas ao atribuir papéis de sujeição sexual e moral. Para Beauvoir, derrubar essa sociedade passava por um igualitarismo radical: pelo regresso à nossa condição de humanos e não, nunca, jamais, pela distinção, natural e até cultural, entre “homens” e “mulheres”.

Não pretendo contaminar ninguém com o meu pessimismo de estimação. Mas Beauvoir triunfou. Abrir uma porta ou dar precedência a uma senhora é considerado ofensivo em certos antros, a começar pelos da universidade ocidental. Eu próprio, confesso, já provei deste caldo: quando, insensatamente, levantava-me da mesa sempre que o elemento feminino levantava-se também. Ficava sozinho no campo de batalha, fuzilado pelos olhares em volta. Então regressava à minha condição de macho, de criminoso e de verme. Sentado. Gelado. Pregado. Mas quem julgava eu que era? O Prof. Higgins em educação sentimental?

João Pereira Coutinho, cronista da FSP




Uma revolução é sempre uma revolução. Quer queiramos ou não, nela se varre o bom e o mau, se a vassourada é de monta. Construir uma nova mentalidade esbarra sempre em obstáculos vários que se vão esboroando como pedras, roladas uma e outra vez, até se desfazerem em areia que o tempo remove.

Nós temos o nosso Abril bem presente, glória de muitos, mágoa de tantos, ainda hoje, volvido o tempo de uma geração. Não é por acaso que num concurso de televisão, de cariz popular, seja Salazar o grande homem para tanta gente, mesmo descontando os votos de uma extrema-direita que usa todos os meios para tentar afirmar-se. Li algures que na República Checa ganhou, num concurso idêntico, um homem que nunca existiu para além do imaginário de um povo martirizado, desejoso de uma figura de relevo capaz de afirmar superiormente uma identidade.

João Pereira Coutinho é um menino; mergulha nos livros e procura interpretar o que o rodeia, com uma intensidade, uma acuidade, uma subtileza, só possível num português conhecedor da sua História, que sabe entornar na prosa a graciosidade e leveza de um país como o Brasil que o acolhe na Folha de S. Paulo.

Deste lado do Atlântico o problema da (falta de) educação mantém-se, eu diria agudiza-se no pior sentido. As escolas particulares vão proliferando a exemplo de outra Europa, as escolas públicas não conseguem dirimir os maus exemplos de uma geração de pais para quem a cultura é sinónimo de dinheiro e apenas isso, os professores não são exemplo nenhum a seguir porque menos bem pagos, e a nossa actual ministra da Educação não mostrou a sensibilidade devida na condução de um processo de reestruturação que era urgente apenas para implementar um processo de avaliação que a maioria dos professores – os que o são por vocação e são muitos – não contesta. Avaliação em relação a professores e alunos. Os sindicatos ajudaram pouco, porque os direitos são sobretudo a dignidade e o respeito. O direito ao trabalho também. Os salários depois, que também contam e os professores não são bem pagos, ao contrário do que se pensa e divulga, principalmente se atendermos a que têm de pagar a sua formação (obrigatória para subir na carreira) e passam pelo menos metade, ou mais, do seu tempo de serviço deslocados da sua residência.

Mas tudo isso é já História para mim.

Falava da outra educação, o civismo que inclui o que se recebe desde o berço.

Saber-me-ia bem hoje o cavalheirismo de outrora, um baixar de cabeça num aperto de mão, um fingir que se levanta na mesa do café, um ceder de cadeira numa qualquer espera de atendimento público, mas esbarro com «os direitos iguais» entre sexos que não são iguais. Iguais no direito ao trabalho sim, chega de «atrás de um grande homem está sempre uma grande mulher»! Ela tem de estar ao lado e não atrás, parece que neste início de século já alguns intuíram isso: os mais educados, os mais evoluídos, os mais humanos, nem sempre os mais instruídos, menos ainda os mais endinheirados.

Resta-me esperar que os próximos trinta anos sejam mais proficientes na civilidade em relação à natureza, humana e ambiental.

A nossa Mãe-Terra está exaurida.

quarta-feira, julho 11, 2007

Lusofonia



Quem me enviou este poema popular desconhece o autor da recolha, mas não resisto a publicá-lo aqui.


AI SE SEÇE


Se um dia nós se gostaçe

Se um dia nós se quereçe

Se nós dois se impariaçe

Se juntim nós dois viveçe

Se juntim nós dois moraçe

Se juntim nós dois drumiçe

Se juntim nós dois morreçe

Se pro céu nós assubiçe

Mas porém se acontesseçe

Que São Pedro num abriçe

A porta do céu e fosse

Te dizer qualquer tuliçe

E se eu me arriminaçe

E tu com eu insistiçe

Pra que eu me arresolveçe

E a minha faca puxaçe

E o bucho do céu furaçe

Tarvez que nós dois ficaçe

Tarvez que nós dois caiçe

E o céu furado arriaçe

E as virge toda fujiçe.

Zé da Luz



Nota: O título AI SE SEÇE (verbo SER), é do linguajar do matuto (sertanejo, nativo do sertão) que quer dizer mais ou menos: SE ACONTECER...




segunda-feira, julho 09, 2007

Modernidade

«Às vezes tem saudades, Augusta – não
dos filhos nem dos netos, sequer do tempo em que matava gatinhos no quintal das traseiras ou do marido que bebia demais. Não queria ser mais nova do que é, moça bonita outra vez, nem tem vontade de saber nenhuma das coisas que ignora. Quando se senta para descansar as artroses e parece olhar os automóveis que vão e vêm pela marginal, não é o trânsito que vê com os seus olhos de velha. Por detrás dos óculos, os olhos dela sonham regressar a uma terra com um prado verde, semeado de castanheiros e árvores de fruto, videiras e milho. Mas essa terra talvez já nem sequer exista.»

Manuel Jorge Marmelo


Queria tanto saber desenhar…!

Desenhar com mão firme, não como desenho de letras que escrevo e que saem sem que tenha tempo de pensar o que elas representam porque são a continuação do meu pensamento. Registar aqui a rugosidade dos caules, as manchas, ligar-lhes os ramos, as ramadas, contornar-lhes o arredondado das folhas, matizar os verdes, captar-lhes a luz, as sombras, o movimento, o ondear do vento…

Ainda assim encanto-me com a minha eficácia: olho para o papel, olho para estes gatafunhos que escrevo no jardim público, deserto a esta hora de meu horário pessoal. Estranho, mas meu, que me possibilita isto agora.

Quieta, pensar como é maravilhoso o acto de escrever. E constatar que se caminha para uma outra eficácia, em que não será preciso ensinar às crianças a desenhar letras porque elas vão aprender directamente do computador pessoal; mais um tresmalho humano, como a concentração no sentido da visão consumiu a percepção do mundo através do ouvido, do olfacto, do tacto. Que pena! É uma maravilha humana como a história contada nos tapetes antigos dos Andes, algo que ficará na História enquanto houver quem saiba, quem queira, quem possa, quem sobreviva.

Mas dizia eu que gostaria de saber desenhar.

Tive nos primeiros anos de escola uma colega, Marília de sua graça, Marília Rodrigues de Oliveira, que nunca mais vi, mas de quem nunca esqueci as rosas, os botões de rosas, os ramos de rosas, perfeitos, reais, as três folhas nervuradas, tudo a lápis de cor. Ninguém nunca soube desenhar como ela. Ela via as coisas como eu não reparava nelas; naquela altura nós teríamos sete, oito anos no máximo.

Hoje sei que poderia ter aprendido a desenhar. Sei também que teria sido capaz, mas o leito do meu rio desviou-se daquele pequeníssimo obstáculo, o dom da Marília, e outras areias me seduziram, em cascatas me despenhei, em lagoas aquietei minhas águas.

Além disso, cheguei tarde. A tradução da realidade em pintura já não tem lugar, a fotografia chegou superando tudo, a tecnologia actual faz maravilhas – a mim inventa-me irreal, tira-me as cãs, as rugas, os anos, transforma-me em modelo de Modigliani, Mucha, Botticelli – o real, o imaginário, o onírico, em gradações de tons vários, adaptando tudo, convertendo tudo, apagando tudo.

Não é verdade, eu sei.

A mão de quem desenha é a minha mão a riscar um moleskine.



terça-feira, julho 03, 2007

Raízes

«Aqui, a maioria tem vidas chatas, e a política portuguesa é exemplo disso. Por amor de Deus, um povo que se entusiasma a discutir a licenciatura do primeiro-ministro é porque não tem mais nada para discutir!»

José Eduardo Agualusa




Qualquer um de nós tem sempre uma história para contar. Basta abrir o seu cesto mágico: há sempre uma flor, uma luzinha, um relâmpago, uma melodia de embalo – indo eu, indo eu / a caminho de Viseu / encontrei o meu amor / ai Jesus que lá vou eu! –, um esvoaçar de crém-crém, uma história inventada e recontada – da outra vez não era assim… – uma alegria, um alvoroço, um assombramento, um pesar, um ai…

Os portugueses são naturalmente pequenos, não fora o espaço um limite condicionante. Fomos império, agora somos país e periférico, assim se olham e dizem, e acabam sentindo, esquecendo o povo sábio: os homens não se medem aos palmos e, principalmente, um mais castiço: a sardinha quer-se da mais pequenina.

Da mais pequenina porque mais saborosa, a nossa sardinha mais cheia de História, mais cheia de histórias, de estórias. É preciso ler mais, ouvir mais, olhar mais para o que dizem os mais velhos. Não necessariamente voltar ao passado, no sentido saudosista e lacrimejante, mas visitar o passado com ternura, com audácia também. Talvez para condimentar um presente luxuriante, para ter uma base forte, assente em raízes que as temos profundas, para abrirmos os braços ao que chega de novo para juntar ao que temos, não para dividir, para separar, para discriminar.

O Velhote foi o cozinheiro da minha infância na fazenda. Januário Coqueiro de sua graça, minha mãe lhe deu aquele nome carinhoso porque ele foi o seu amigo numa juventude difícil, num tempo de medos, de solidão, de carência, terá sido a Bá que eu vejo agora nas novelas de época brasileiras. Depois, ele era baixote, tinha uma cara bonita, sempre risonha e juncada de rugas, pareceria um velhote, não sendo embora já muito novo na altura, creio.

Desde que nasci fui a sua menina, a quem ele deu o nome do rio que passava perto. Eu gostava de sentar-me junto dele enquanto descascava as batatas para a sopa, enquanto tirava a pele dos tortulhos para os grelhar; ainda o vejo a levar nas mãos as brasas vivas de um lado para outro, sorrindo sempre, rolando-as nelas – não queima, Vió?

Tinha um português difícil, mas eu apreciava as suas histórias toda olhos e ouvidos alerta para o entender, talvez um Matisse olhando para mim procurando compreender quando converso com ele, cachorro. Falava de pedras de ouro que brilhavam ao sol, de um grande caçador cuanhama que chegara com meu pai quando moço; das guerras do Bailundo, de serpentes que se punham de pé para afrontar os homens, de plantas que respondiam aos nossos afagos e, envergonhadas, fechavam as folhas.

Havia em casa uma foto do Velhote comigo, menina de colo, num braço, com um prato na mão e o outro apontando um pássaro debaixo de uma laranjeira, mas não consta do pequeno espólio que minha mãe conseguiu resgatar à descolonização.

Nem é preciso.

O Velhote faleceu, teria eu quinze anos.

Mas ele mora comigo ainda.