«As árvores crescem sós. E a sós florescem.
se levantam do chão, se alteiam palmo a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos,
e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se esboçando as flores,
e então crescem as flores, e as flores produzem frutos,
e os frutos darão sementes,
e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas.
Sem verem, sem ouvirem, sem falarem.
Sós.
De dia e de noite.
Sempre sós.
Os animais são outra coisa...»
António Gedeão
Continuando a falar de afectos, as pessoas ligam-se pelo que têm em comum, não tanto a idade nem a posição social ou sequer os laços familiares. Uma questão de afinidades num tempo dado. Acima de tudo, a empatia nasce da sinceridade na expressão do sentir, não só na relação com o outro, mas também na apreciação do mundo envolvente. O gozo partilhado em pequenos nadas do quotidiano, um ou outro som, odor, clarão, abraço, o que incendeia o olhar no mesmo instante, o que traz emoção na água que emerge dos olhos.
Afinal, se cada um de nós quisesse, soubesse, pudesse expressar sem rodeios, hic et nunc os seus sentimentos, tudo seria mais fácil, mais natural. Claro que é utopia, o mundo é feito de artifícios, o Homem condicionado por questões sem tamanho, nem senso a maioria das vezes. A utopia mantém-se quando nos queremos iguais na educação, nos direitos, nos deveres.
O ser humano é um animal deveras complexo. Pensante por natureza, não se conforma com o que sabe, menos ainda com o que lhe ensinam. Os anos trazem não só experiência, mas experiências diversas que fazem queimar etapas quando se unem. E a sabedoria que se procura numa ocasião da vida, num tempo do devir, acontece antes ou depois, nuns e noutros tempos diferentes, e já não é nada quando se atinge, há que ir mais longe e evoluir na sua vida longa, cada vez mais longa.
O que nos concede tranquilidade é não saltar um caminho para chegar mais depressa.
Há um tempo para tudo, o tal «tempo para amar e tempo para morrer».