Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos.
Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca
Nenhuma palavra
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim,
escrevo.
Mia Couto
Avaliar é sempre um processo difícil.
Principalmente avaliar até que ponto nós próprios estamos
Avaliar é, acima de tudo, comparar. O antes e o depois. Há que conhecer o percurso anterior de um indivíduo para se poder aquilatar acerca da sua competência num dado comportamento. Não é a fugacidade de um momento que justifica um carácter; não é um gracejo oportuno que faz um humorista nem uma explosão de cólera que marca um criminoso.
Ninguém nasce do nada. Ninguém nasce de olhos claros numa comunidade cigana, ninguém desponta de olhos oblíquos n uma Índia de olhos redondos ou negro entre os Esquimós. O urso só é branco na imensidão das neves, até a raposa ali se pinta prateada.
Em todo o lugar há um tempo próprio. Belo nos seus esplendores, o campo que brota florescente na Primavera e traz a fartura no Estio, explode em tonalidades fortíssimas nas folhas outonais, gritando a sua beleza incontornável aos ventos que lhes vão cerceando a seiva e as despenham para a eternidade de um Inverno.
Porém é importante, impõe-se uma avaliação contínua do que somos capazes de poder fazer, em campos separados, pessoais, sociais e profissionais, sem que deixem ao mesmo tempo de estar unidos num só, equilibrados entre si. Há direitos e deveres, não há uns sem os outros. A vida é uma só e tem tempo próprio, está visto.
E é neste sentir, nesta entrega permanente, que se constrói cada indivíduo.