segunda-feira, janeiro 01, 2007

Claridade



Um dia juntei todas as palavras

que já aprendera e

busquei para elas novos sentidos,

novas maneiras de soar e de voar

até ao coração dos homens.

Censuraram-me por tê-lo feito

e houve até quem dissesse:

«as palavras são o que são

e procurar para elas novos significados

é pura perda de tempo e ofensa aos deuses.»

Eu não lhes dei ouvidos

e continuei a escrever, aprendendo

o sabor de casar a palavra «água»

com a palavra «vento» e a palavra

«corpo» com a palavra «terra»

e a palavra «homem» com a palavra «sonho»

e a palavra «natureza» com a palavra «vida».

Foi assim, um pouco sem o querer,

um pouco sem o esperar, que usei

pela primeira vez a palavra «poesia»

que viaja comigo, companheira eterna,

para todos os lugares aonde vou,

desde a memória do homem

até aos últimos esconderijos da noite

até ao fundo da claridade dos dias.

José Jorge Letria



4 comentários:

Ana disse...

Tens uma surpresa no Fios!!!
Beijinho

vida de vidro disse...

Bonito, esse poema do José Jorge Letria!
Bom Ano! **

José Manuel Dias disse...

Escolha sublime.
Bjs
ET: A dificuldade da acesso tem a ver com o facto de ser melhor visualizado com o internet explorer

veritas disse...

Olá!

A palavra, esses efeitos, esses defeitos, essas virtudes...é um dos meus mais doces vícios...estou sempre a lembrar-me daquilo que dela disse Eugénio de Andrade...

Bjs. Bom ano.