sábado, janeiro 20, 2007

Fiama Hasse Pais Brandão

Começa a alba, a luz,
existe a harmonia



«...Porque me apareceu a visão renovada
do terror antigo com o sentido novo,
porque me escolhi, entre as Crianças,
para narrar a Peregrinação,
com a letra que é a do meu tempo
e o espírito da infância com os seus Olhos?

E não esqueceu o Ouvido essa Criança,
entre sinos e preces e gemidos,
e, um dia depois, na punição vivida
até à recompensa, em que soou no fim
a água a escorrer liberta para o Sol.

Agora pensei que os que sofriam ali
eram os que foram traídos neste século,
em que Moloch prometeu indústrias
e trabalho e os ócios para todos.
Vi-os com o seu esgar triste e cúpido,
olhar o frontão da capela iluminada,
e escutei o Homem Só a dizer alto
que lhe haviam tirado o Deus antigo
para ser mais livre e seu.

Porque aquela de quem era filha
me levou como peregrina outrora
onde não soube ver senão os rostos
e os percursos que a memória trouxe,
sou hoje a narradora, até ao milénio,
desta peregrinação e da catábase
com que me torturo e salvo, nestes versos,
em nome dos homens do meu século...»

F.H.P.B., (Este) Rosto, 1970

1 comentário:

o alquimista disse...

Passei e...
A luz inundou o dia, no resto do vago que resta da noite, sons de melodia dolente que ecoaram por toda a lagoa...

Feiticeiro domingo

Doce beijo