domingo, junho 11, 2006

Paraíso perdido


«No momento oportuno, apareceria de fio e cruz de ouro, mas apenas quando algum importante negócio exigisse. Com a grande vantagem de a cruz servir de porta para quase todas as religiões. A sua preferência no momento se dirigia para a Igreja Católica, pois esta, em vias de reconciliação com o regime, começava a recuperar muitos bens patrimoniais confiscados anteriormente pelo Estado.
Sabia, por conversa do amigo Almerindo, trabalhador nos serviços de cadastro do governo, a quantidade enorme de terrenos confiscados que eram propriedade da Igreja e portanto, mais cedo ou mais tarde, restituídos a ela. Particularmente a Ilha dos Padres, na baía do Mussulo, assim chamada por abrigar conventos nos tempos da colonização, tornados depois da independência em quartel dos fuzileiros navais. Era só questão de tempo e a ilha seria devolvida à Igreja. É evidente, não voltaria a servir para serviços religiosos, a área à volta já estava demasiado povoada e nos fins-de-semana só dava para apreciar os corpos semi-nus por todo o lado, não era alimento espiritual para padres e madres. Já viram a espantosa oportunidade de negócio?
Caposso divisava longe e grande. Imaginava um complexo turístico, com hotéis e resorts, assim mesmo com o nome em inglês pois soava melhor, bangalôs e restaurantes, para quando houvesse turismo internacional. Claro, a Igreja não se importartia muito em negociar com um protestante ou ateu, desde que pagasse bem. Mas sempre seria mais benevolente para com um fervoroso católico ou então não há amiguismos e partidarismos. Se fosse preciso, casava pela Igreja com Bebiana, só para ter acesso a um negócio milionário daqueles. Para ele, criar um grande centro de turismo na ilha também valia um casamento na Igreja, e os antigos camaradas que se lixassem, podiam até rir pelas costas.»

Pepetela

1 comentário:

jawaa disse...

Corrupção preto no preto!