quinta-feira, setembro 06, 2007

Cantigas de Amigo


«…Bailemos nós já todas três, ai amigas,
so aquestas avelaneiras frolidas
e quem for velida como nós, velidas,
se amigo amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
verrá bailar…»


Airas Nunez de Santiago (séc. XIII)



Os pássaros da felicidade enfeitam ainda hoje a memória dos acontecimentos no Oriente, nomeadamente os vestidos de noiva na China. São na verdade magníficos na sua elegância estes grous sem coroa.

Também temos os nossos símbolos de ventura, amuletos da sorte, fascinação por alguma espécie de magia ou encantamento, independentemente da condição de cada um de nós. Benzer com o sinal da cruz a boca de uma criança que boceja, dizer «santinha» quando espirra, por exemplo, tem explicações que remontam a crenças antigas, e ainda as há por aí. Ainda digo «saúde!» a quem tenta perto de mim controlar um espirro, que os micróbios vicejam mesmo sem essas manifestações intempestivas.

Pois eu sou fã dos «lenços de namorados» indispensáveis nos enxovais da região do Minho, para darem sorte nos amores, bordados geralmente durante o pastoreio do gado pela rapariga apaixonada que ia transpondo para o lenço os sentimentos que lhe iam na alma em poemas, verdadeiras cantigas de amigo, escritas na repetição da oralidade. A rapariga passaria a usá-lo ao domingo na missa, no bolso do avental; mais tarde oferecê-lo-ia somente ao rapaz que amava como compromisso de amor, e este deveria usá-lo ao pescoço ou no bolso do casaco do fato domingueiro.

Os que conheço mais elaborados têm belíssimas bainhas abertas ao redor, tecidas em várias cores e quase sempre uma quadra de amor onde predominam os tons vivos e populares. Pássaros, flores, corações, chaves e coroas, pode dizer-se que são os motivos que os adornam repetidamente, sendo alguns bordados num único tom. Actualmente retomado o gosto pelos «lenços de namorados», é usual enfeitarem paredes de salas mais íntimas, devida e singelamente emoldurados.

Eu gosto de bordar, gosto de linhas e cores e passo muito do meu tempo – agora mais longo – de agulha e dedal, às vezes bastidor. Invento lenços de namorados que disso não têm tudo. São marcadores, com datas, com ditos, com nomes, com gregas e galões, mantenho os símbolos da chave do amor guardado, mia senhor, meu rei. É certo que os tenho feito apenas para os amigos, as amigas, personalizo cada um, se o desejam. Não faço dois iguais e tiro prazer disso. As férias acabaram, o calor já não deixa suar as mãos.

Deixo aqui o último que fiz para o meu querido amigo, o meu «filho» mais novo que é um pingo de ternura. Este é oferecido para a sua casa nova, aqui perto, no casal, em tons a condizer com o ambiente que ele criou. Embora singelo, sei que vai gostar.



4 comentários:

Klatuu o embuçado disse...

Todo o Oriente é uma espécie de bordado, uma cuidada filigrana de alma e lonjura.

Dark kiss.

Anónimo disse...

Querida Jawaa,
Não imagina a surpresa que foi ver este seu post! Ontem tentei por 2 vezes agradecer a atenção, o carinho e a ternura, mas não consegui escrever nada! Hoje, estou na mesma - não encontro as palavras certas para lhe agradecer e lhe dizer o quanto gostei deste presente que será sempre apreciado e recordado num futuro, tal qual uma obra de arte que perdurará no tempo, testemunho do melhor de cada um de nós.
Beijo de admiração pelo talento que essas mãos carregam (porque tudo o que faz, faz bem, porque faz com sentimento e poesia!)

Lord of Erewhon disse...

Sou um sedutor - moderado... :)

Dark kiss.

bettips disse...

Uma ternura bordada...como é imenso o poder criativo, com a côr, com o amor! Parabéns, são belos! Bj