domingo, maio 25, 2008

As rosas já não são cor-de-rosa


É na VULNERABILIDADE da tua pele
Que afago TAPEÇARIAS suaves
E traço a SILHUETA da luxúria
Com uma PENA de sonho permanente.


É no ORVALHO do desejo derramado,
Sem a OBSTRUÇÃO de juízos adormecidos,
Que da MORTE nos acordamos acesos
Quando a inflamada MANHÃ nos sorri.


És o EXPONENTE da minha fraqueza,

És CRIANÇA e mulher de raiz no teu sol,
Onde me aqueço e me entronco mais forte.

O teu ar é o CONSELHEIRO que me atrai

Para te AFASTAR de memórias, a gritar
Nas brumas que te matam em silêncio.

Nilson Barcelli em Maio 2008
Escrito para os 3º jogo do Eremita com as 12 palavras obrigatórias em maiúsculas



Enquanto as roseiras florirem só porque é primavera, eu vou sorrir para o mundo.

É que as rosas insistem em abrir agora, mau grado as nuvens que tapam o sol, a água que encharca os botões, o vento que lhes leva as folhas.

Porque elas já surgem magoadas, porque a chuva vem ácida, porque os ventos já não são sérios e trazem no ventre caminhos que rasgam a majestade, que deixam marcas de pena, ponteiam as folhas, secam os troncos, matam as cores, secam as pétalas.

Pode ser que os homens se encham de bondade e construam a represa que sustenha a caminhada inexorável da destruição do planeta. Só que eles não caminham em grupo, não voam em formação. E a força perde-se daqueles poucos que conhecem os caminhos, que seguem a rota. A maioria segue por saí sozinho, sem tino, desafiando os ventos, ao encontro da tempestade.

Afinal os homens dominam o mundo mas não dominam a natureza. O céu despenha a água de sempre e a terra enfurece-se porque lhe desviaram, lhe cortaram os trilhos, os leitos que criou para ela, ela que querem domar. Gastam materiais e tempo sem respeito, sem ouvirem a outra parte, que serenamente mostra ser a mais forte. A água corre pelo caminho de sempre, ali ao lado, sem tocar na obra do homem. É só uma amostra.

Mas o homem está feliz porque fez o que queria.

Terá feito o que deveria?

9 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Obrigado pelo destaque que deste ao meu poema.
Li este e mais alguns textos teus. Tu sabes escrever... eu, faço por isso mas ainda estou longe...

Boa semana, beijinhos.

bettips disse...

Deixem a língua florir fluente... as águas tomarem o seu curso na natureza, mãos de boa vontade acenando ...será um mundo apenas "um pouco" mais azul!
Porque sim, vale a pena insistir.
Bjinho

Lord of Erewhon disse...

Passa pela Nova Águia, está lá um poema meu sobre o achamento do Brasil, de que sei que vais gostar.

Beijinho.

dona tela disse...

Que lindas rosas verdes. Quando é que eu aprendo a tirar fotografias? Se soubesse havia de as por no meu blogue.
Quer vir passar um bocadinho à minha casinha? ;) :)))

Justine disse...

Ah, se os homens que conhecem os caminhos conseguissem voar em formação...a natureza seria respeitada e aí sim, o homem poderia encontrar o equilíbrio.

Memórias disse...

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

PS: Jawaa, amo sua literatura.

Afetuosos abraços.

Manuel Veiga disse...

os homens estão felizes com a sua obra? não sei, não...

não só fizeram o que deviam como a ganância os deixa cegos...

M. disse...

Não sei se o homem está feliz. Bela a expressão "não voam em formação". Quem dera fossemos pássaros e tudo seria diferente e simples.

Rocha de Sousa disse...

Gosto imenso das rosas brancas.As rosas «rosamesmo» são uma, para mim, espécie de lugar comum. A passagem do seu texto pelas rosas, a sensibilidade à brevidade da vida delas,isso encaixa bem com o
outro lado dos nossos encontros
e desencontros,as vontades doen- ti e essa pergunta, depois da alucinação dos humanos em perma-
nente crise, se, além de
terem feito o que queriam, se fizeram o que deviam.
A Terra já começou a responder-nos.
do amigo
Rocha de Sousa