sexta-feira, setembro 15, 2006

Tranquilidade


«Somente depois de bem morto hei-de dispor daquela paz
Que sempre apeteci mas nunca procurei
Até por não ter tempo para isso nem sequer para saber
Coisas simples como saber quem sou porque ao certo só sei
Que muito mais passei naquilo em que fiquei
Nem que fossem os filhos ou os versos
Que fiquei muito mais naquilo onde passei
Como passos na areia no inverno ou repentinas sensações
De me sentir de súbito sensivelmente bem
Encher o peito de ar e sentir-me vivo...»

Ruy Belo


Em primeiro lugar e sempre, o espaço.

Aí, o espaço que aceitei com humildade e encanto também, por diferente. O espaço outro, que mais e mais me foi faltando, já não tem a ver com lugares ou pessoas, está dentro de mim, ou não está.

O espaço que habito aqui por breve tempo é imenso, familiar, mas principalmente sereno. E multifacetado culturalmente. E alegre. Num virar de esquina, um sorriso e «hello!». Muitas vezes um véu esconde os cabelos e o trajar revela recato, mas o sorriso aberto destrói de imediato a impressão de severidade. «Hi!»

As pessoas parecem mais felizes. Olham os outros nos olhos com serenidade, a sinceridade que me falta aí. Portugal tornou-se snob recusando um olhar, um cumprimento, um sorriso espontâneo, mesmo a quem se conhece. Principalmente.

Estou sentada num espaço largo no Eaton Mall, há crianças educadas que riem das imagens projectadas num ecrã ao fundo, com situações breves e divertidas de «Kids and Pets». Não me impedem de tomar notas. Uma senhora idosa, de ar afável senta-se perto de mim com um chocolate quente e mais além dois asiáticos conversam e comem agilmente, usando dois pauzinhos.

Sorrio para dentro da minha solidão à espera do fim de tarde para o jantar com quem semeia flores no meu espaço aqui.


1 comentário:

dakidali disse...

Sózinha mas não só. Gostei. Que serenidade! Que paz! É o que me transmitiu com este post. Fique, fique o mais que puder. Aproveite tudo e todos. Isto está pela "hora da morte".
Beijinhos (já com saudades).