quarta-feira, abril 25, 2012

Verde e vermelho



Esta é a madrugada que eu esperava
0 dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
como puro inícío
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz do mar
Interior de um povo
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
Sophia de Mello Breyner



 Eu não tenho à minha frente um monte que me oprima, tenho ruídos outros que me ofendem os tímpanos e apagam as vozes cá dentro. Tenho as madrugadas nem sempre limpas, nem sempre puras.

Hoje é o dia em que no meu país se comemora a Liberdade, mas a liberdade é todos os dias que trazem a cada um de nós um pouco mais de espaço, um pouco mais de justiça para que se cumpram os nossos anseios mais legítimos. E, enquanto houver humilhações para os que sofrem, e os prevaricadores, embora condenados pelos tribunais, continuarem em liberdade, enquanto os que têm fome virem as mesas repletas de iguarias daqueles que lhes tiram o pão, enquanto a noção de liberdade para uns, for sinónimo de opressão para outros, não há razão para comemorar.

Esperemos com fé que este dia volte mais afável, em que os cravos não sejam vendidos mas dados, oferecidos aos homens para as armas florirem, esperemos com fé que chegue breve o dia em que todos colham o que produzem, em que se partilhe entre todos a alegria de um país mais justo. Lembremos que a liberdade tem limites, para aos mais pobres e para os mais ricos, se nesta dicotomia se tiver em conta apenas o plano económico. Porém é preciso olhar em volta, ver a riqueza como um todo e valorizar o dom de uma natureza pródiga deste país ímpar na Europa, deste povo amável, esta gente capaz de se erguer sem tristeza, orgulhosa de estar no mundo, nos mundos. Demos tempo ao tempo.

Sejamos apenas nós.
Como página em branco
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação.

1 comentário:

Anónimo disse...

A sohia sabia mentir para dizer a verdde. E eu estaria tentado a di-
zer que o brilho de Abril se esvai-
ra na indigência geral.
Pois olhe que este ano achei só- brio, mais ou menos limpo de atoar-
oarlamentares, um cântico do povo
à saída, outros vogando pelas suas
terras.
Estiveram mal Mário Soares e a As-
sociação 25 de Abril. Não é o re-
gime que é julgado na assembleia,é
a história (militar e popular) de
um dia autêntico, aberto a todos naquele inesquecível 1º de Maio.
Rocha de Sousa