domingo, junho 27, 2010

A mentira dos astros


E se mais do que minha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual se quer morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os seus olhos têm que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de depois
E você tem que ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois.
Vinicius de Morais




A alegria e a dor convivem sob o mesmo tecto.

Nem é possível amar a lua e apenas senti-la quando parece virar-nos as costas, numa lua nova que se renova para depois nos dar de mansinho uma levíssima curva de luz, como porta entreaberta para chegar ao esplendor da lua cheia, numa claridade de luz branca, apaziguadora de todas as incertezas, numa entrega total.

Mas ainda assim, quantas vezes escondida atrás das nuvens, do nevoeiro que cai antes da noite, atrás de tempestades que se arrastam por dias, semanas, e a lua de novo fechando a porta, de manso, para dar tempo aos homens de olhar as estrelas, para não ofuscar o brilho delas. Porque essas estão lá, para esplendor dos nossos olhos ainda que desaparecidas há anos-luz, séculos para o tempo dos homens na Terra.

O que construímos, o que criámos, aquilo a que demos vida e cresce, cresce, fugindo das raízes, organizando-se em árvore, flores, fruto, ou apenas crescendo enrolando o que toca, tapando, escondendo, debruando de verde as ruínas, os cacos entretanto abandonados, o que fazemos aqui depois?

Tudo se renova de uma forma ou de outra. Nós também, assim queiramos guiar a energia que os astros atiram para nós, incansavelmemente. Mas é preciso muita força.

3 comentários:

Rocha de Sousa disse...

A lua é manhosa, está sempre de
frente para nós, se calhar de cos-
tas. A gente sabe lá qual é o ros-
to dela.
Por isso «estamos condenados ao
impossível». Por isso, na ideia de que «um quadro é uma sma de des-
truições», tratamos de destruir para reconstruir. Mas quantos enga-
nos acontecem nas contas destas
pedras realinhadas!

Manuel Veiga disse...

gosto dessa perspectiva, diria pagã, da Vida.

belíssimo etxto.

beijos

M. disse...

Um texto de esperança e serenidade, uma fotografia linda.