segunda-feira, maio 24, 2010

Fronteira



De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente
.
 Vinicius de Morais




Os homens não se contentam em olhar as rosas, eles mergulham nas veias que rasgam o corpo das pétalas e procuram a fonte que lhes dá cor e vida. Terão esse direito?

Se não ferirem, se descerem mansamente por entre os caminhos oferecidos, é partilha de saberes que conduz necessariamente a novas conquistas com vista a um futuro melhor. A água, a seiva, o sangue que flui dá força à vida que brota e se exibe orgulhosamente bela, mas logo fenece ao mais forte sopro de vento, batida pela chuva, pelo granizo que a fere de morte.

O problema, no caso das rosas, é sempre o aproveitamento excessivo da oferta de cor e calor, de sabor e odor que faz proliferar o pulgão, em breve tolhendo o brilho e a vida. Nobel inventou a dinamite e o uso que lhe deram dilacerou mundos.

Criou-se vida em laboratório pela primeira vez usando apenas produtos químicos. Um marco histórico da Humanidade que convém registar pela gravidade de que se reveste, pela persistência, vontade de saber, de chegar ao fundo das coisas. As consequências serão incalculáveis por agora, mas eu ainda acredito na evolução dos homens no sentido da cultura, da educação para a solidariedade e tolerância entre os povos.


6 comentários:

Justine disse...

Eu também, Jawaa, mas tudo isto é tão assustador...

Auíri Au disse...

Levanto essa bandeira também.
Que a revolução seja feita de amor....
Beijos e boa semana.

Mar Arável disse...

Sim

É preciso acreditar

Nadine Granad disse...

Lindíssima conversa entre texto e poesia!...
(re)lendo!...

Rocha de Sousa disse...

Só hoje voltei a este santuário,ao
ritmo falado/cantado de Vinicius.A
voz rouca tocava a beleza dos seres
e do mundo. E agora aqui está, para
sobrevoar uma questão ontológica,
pé ante pé, antes que as flores fa-
leçam, a tempo ainda que uma certa
descoberta nos permita salvar coi-
sas, inventar outras, o homem a fa-
zer de Deus. Também gosto de pensar
no lado bom destes avanços. Mas,co-
mo diz Justine, o reverso da «meda-
lhe» parece aterrorizar-nos.

bettips disse...

Não me dão "o tempo": eu roubo-o, aos bocados, na feitura da minha vida.
Por isso me vou repetir sem vos ler como vos gosto. Deixo abraços porque me sois belos.