sábado, julho 04, 2009

Dalemmar...





A vida não decorre num único comprimento de onda.

As sensações são múltiplas e enroladas, ainda que separando-se como o ar da água na revolução das ondas na praia, a areia, as pedras sofrendo o movimento. Testemunhar o nascimento do que quer que seja é utopia, porque nada surge de repente; algo esteve em verdadeiro namoro silencioso, processando-se muito antes do começo de tudo. Não foi um sopro de Deus que criou o Homem, não é a foice da Morte que lhe tira o pulsar. As condicionantes são complexas e só os mais hábeis, os mais sábios, quem sabe os mais imprudentes, os mais afoitos, conseguem chegar ao âmago, ver o que a mente vulgar não vislumbra e a ciência não explica - por enquanto.

A magnitude da natureza exerce uma pressão sem nexo sobre os seres mais ínfimos e as provas surgem à exaustão. As árvores crescendo magníficas, imponentes, deixam-me sem alento para sentir algo mais do que esmagamento, humildade, estupor. Os cactos cobrindo o chão em sucessivas ondas variadas na espécie também me espantam, aqui onde a natureza tem de ser breve na floração – e sabe disso. Também os homens, em conluio com ela, se coordenam de forma diferente, agem, convivem, aproveitam separadamente as oposições que se instalam em cada estação. Ou nem tanto. Há processos, procedimentos, que estão inscritos nos genes, são inatos.

Não sou suficientemente sábia para poder distinguir o surto de contradições que experimento, por breves momentos embora, e não sei como alcançar o domínio das minhas faculdades para sequer legendar os meus pensamentos. Hoje é um dia novo, quarenta e um anos depois.

Continuar a escrever, agora, é dizer demais.


9 comentários:

Chat Gris disse...

:)

Paula Raposo disse...

Gostei de te ler. Eu também não sou sábia. Muitos beijos.

Rocha de Sousa disse...

Deslocada no espaço e no tempo, mas
amada pela família e amando uma natureza tão bela quanto bizarra, tudo se dilata e contrai.Esse tempo
aí,curto para as plantas cuja variedade e bela estranheza num só
género se afirma, é o mesmo tempo de todos nós. O testemunho é uma das mais fortes e belas potencialidades do ser humano.
Nunca é demais dizê-lo, nunca é demais dizer a última palavra - e
ainda fica a faltar dizer a derradeira. Tem tudo para não ceder
à renúncia.

Manuel Veiga disse...

deslumbramento absoluto. o meu...

pela fluência da escrita. pela eximia escolha do ritmo. pela sensibilidade e autenticidade com que dizes...

beijo

Anónimo disse...

Gostei. Gostei muito. Gostei mesmo muito!
Oxale

Justine disse...

A saudade não era só do CG, era também de ler os teus textos densos, perfeitos, encantatórios.
Um abraço, amiga:))

bettips disse...

És suficientemente sábia para as contradições entenderes.
Porque te falam as árvores.
Bjinho

M. disse...

Uma beleza estes pensamentos de além mar a completarem este rosa da Natureza.

vidavivida disse...

Adorei ler o texto e tudo o mais e para um leigo como eu fiquei sem palavras.
Como sempre com um grande sentido de sensibilidade.
Beijo