sexta-feira, janeiro 16, 2009

Engenho, engenhos


Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

Luís de Camões





Pelo engenho da palavra surge o engenho da imagem e com a imagem do engenho brotam palavras sem fim do engenho do pensamento.


Parti do nosso Camões pedindo às Musas «engenho e arte» para levar a cabo a sua obra, e a maior de todos nós, lembrei a sabedoria do povo dizendo que «a necessidade aguça o engenho» e dessa necessidade me fui a saber do engenho, nos engenhos que os homens urdiram para esclarecer o pensamento.


Fui ciscar no velho Lello, amigo fiel, encontrei o ardil e a astúcia depois da habilidade e talento, até em itálico que Platão e Aristóteles foram grandes engenhos da Antiguidade. Confirmando no Houaiss, o engenho começa por ser arte do pensamento humano e só depois passa o nome para engenho de açúcar, moinho de vento, azenhas de água e por aí adiante, que os engenhos não acabam.


O engenho da escrita, o engenho da imagem, o engenho que permite todas as ousadias, olhar a neve que cai do outro lado do mundo, olhar a guerra que não conseguimos parar porque os homens constroem engenhos desde que o mundo é mundo, engenho do Homem para dominar os seres da Terra.


Destes engenhos, que os não referi a todos, prefiro o modesto engenho da natureza, no repouso e variedade. Eu procuro repouso para sossego dos sentidos, também pelos sentimentos. Falta-me procurar sossegar a inteligência.



10 comentários:

pianistaboxeador21 disse...

E que Deus ilumine os nossos engenhos e nos traga novos engenhos. Belo ensaio.
E ainda tem os engelhos de cana-de-açucar de José Lins do Rêgo de quem eu gosto muito.

Um imenso abraço e muita paz,

Daniel

Justine disse...

Mas que engenhosa a minha amiga se revela, a cada passo:))
Um beijinho de bom fim de semana

Rocha de Sousa disse...

Engenhosamente óbvio.
Rocha de Sousa

Paula Raposo disse...

Minha Amiga, a inteligência não se sossega...muitos beijos.

M. disse...

Adorei, Jawaa!

vida de vidro disse...

Gostei muito do teu texto. Só não sei se a inteligência se consegue sossegar. Eu ainda não consegui. :)**

Manuel Veiga disse...

minha querida amiga, desculpa contrariar-te - hoje não há engenho, mas "engenharias"!

... até o "engenho da natureza" está "maculado".

(a tua inteligência está viva e recomenda-se... rss)

beijo

bettips disse...

Esse é o engenho mais apreciável!!! O que queremos manter vivo em nós; e com os outros. Muito bem "engenhado" menina.

dona tela disse...

Isto é que é escrever bem. Com engenho, não é?

Muitos cumprimentos.

k disse...

SUA ANALFABETA!!!!!!!!!!