meus olhos por vós meu bem
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Tam tristes, tam saudosos,
tam doentes da partida,
tam cansados, tam chorosos,
da morte mais desejosos
cem mil vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
tam fora d’esperar bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhuns por ninguém.
Juan Roiz de Castell-Branco
Percorro o espaço vazio onde me habituei a ver, primaveras adentro, o verde frondoso das magnólias centenárias manchado ostensivamente de branco, pétalas imaculadas, desmanchadas, olorosas. Subo os degraus de pedra, deformadas pelo uso, pelo tempo, passo a soleira da porta de madeira enegrecida e caminho devagar pela nave altíssima, silenciosa e fria, as ogivas sucedendo-se no alto, esmagando tudo o que sou, despojando-me de todos os preconceitos, todos os temores, todas as solidões.
Apago do olhar os poucos ícones religiosos, não vejo os bancos corridos de madeira vazios, sigo as colunas de pedra lisa até às gárgulas, e os olhos são atraídos pela pedra rendilhada que ornamenta a porta escondida para lá do altar. Antes, no transepto, os túmulos e as rosáceas escrevendo a História.
A fé que alimenta os homens na construção de monumentos ímpares de grandeza, hoje propriedade do mundo global, a fé que conduz os homens em epopeias temerosas arrostando os mares então desconhecidos, a fé que consagra os mais altos desígnios de abnegação e altruísmo, a mesma fé os une, para inenarráveis violências que arrasam corpos e os espíritos dos homens de bem.
A prece tem sempre lugar, mesmo quando se não professa religião alguma.