terça-feira, março 18, 2008

Calor no frio



Desta vez deixa-me

Ser feliz.

Nada aconteceu a ninguém,

Não estou em parte alguma,

Simplesmente sucede que sou feliz

Pelos quatro costados

Do coração, andando,

Dormindo ou escrevendo.

O que posso fazer, sou

Feliz.

Pablo Neruda




Mergulho no avesso do mundo.

Mochila às costas, embrulhada de botas e kispo longo, luvas grossas e cachecol e capuz e vento fresco no rosto, caminho por veredas abertas por entre a brancura já escurecida pelo sal e sujidade dos dias de céu aberto onde o sol não aquece. Passo apressado que a temperatura windy não deixa lugar para grandes delongas sem o aconchego de qualquer lugar abrigado.

No autocarro é preciso desembaraçar as mãos que o percurso é longo até downtown. A sonolência vence os perfis da multiculturidade que se mistura nos transportes, orientais em maioria, indianos, véus aqui e além acariciando rostos de jovens de olhar fundo, alguns, bastantes, mergulhados em livros, outros lendo jornais, uns apenas de olhos fechados. Jovens mães transportando carrinhos e crianças pela mão, os degraus do autocarro descendo a cada entrada de alguém com mais idade.

Descanso o olhar na terra toda vestida de branco, as árvores nuas alongando as ruas largas, o horizonte imenso onde perco o olhar.

Os dias têm já uma hora mais e deixam tempo para o regresso cedo.

Ali a quietude impera na espera dos senhores da casa.

Olho o espaço em volta respeitando quem a guarda.

Com a ansiedade de quem ama.


11 comentários:

Quem Não Tem Cão disse...

Saudades de todos daqui para todos ai.
Pingo de saudade.

M. disse...

Vou-te acompanhando nesses teus dias felizes. :-)

Sant'Ana disse...

Como é bom ler-te tão, tão feliz.

Como me deixas sorrisos e tão patetas, acredita...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Rafael Almeida Teixeira disse...

Esse calor no frio faz bem, muito bem.
Qualquer cego ver isso.

Abraços afetuosos \o/

Rafael Almeida Teixeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rafael Almeida Teixeira disse...

Jawaa não click em link nenhum desse comentário acima do meu. Pois, provavelmente, seja vírus.

Rui Caetano disse...

Textos e imagens magníficas. Uma Boa Páscoa.

Buda Verde disse...

Belissímo texto!
boa páscoa.

Rocha de Sousa disse...

Um calor no frio, um bem de alma, aqui ou do outro lado do mundo. A minha ideia, ao ler este belo tex-
to, é que a Jawa foi à neve, esteve
ou está na neve. Falou-me uma vez no Canadá, tem um filho longe,ve- ja como me perdi em coisas porven- claras, mas que costumam ser comu-
nicadas (por si) em «câmara lenta» e com muitas «elipses». Mergulhada
«no avesso do mundo». Multiculturidade esclarece o que se
esteve a passar. Já lhe desejei boa
Páscoa, mas redesejo. Aquele gato à espera, ou a zelar por tudo, é fabuloso. Está mais atento do que
Deus. Todas estas fotografias são
suas? São verdadeiramente excelen-
tes.
A nossa indecisa Primavera espera por si.
Um abraço
Rocha de Sousa

vidavivida disse...

Pelo texto vejo que já contas as horas que faltam para o regresso.
Não desesperes e aproveitem o mais possível.
Com esse fofo a servir de guarda, observando tudo quanto se passa lá fora não existe melhor detective.
Beijos daqui