domingo, março 04, 2012

Secura

Que Portugal se espera em Portugal?
Que gente ainda há-de erguer-se desta gente?
Pagam-se impérios como o bem e o mal
- Mas com que há-de pagar-se quem se agacha e mente?
Jorge de Sena


Entre o sono e a perplexidade deixo que os sentidos acordem, se abram ao presente que se instala, os ruídos mordendo a impotência de sentir qualquer palpitação da natureza, pássaro ou vento em namoro das árvores, o cicio da folhagem em resposta mansa.

Em volta, o progresso, a velocidade, a impermanência enrolando as vidas, o destempo para os afectos, os abraços, a pausa, o silêncio para apenas ouvir.

Só o destempero duma tempestade pode alterar o processo por poucas horas, pode falar mais alto, abafar tudo em redor mas o temporal não se abate. As promessas de chuva ficam-se por isso mesmo, uma revoada de nuvens que mostra o satélite, mas a terra continua seca, as árvores de citrinos queimadas das geadas das noites deixam pender os frutos amolecidos, vazios, sem sumo.

Como as pessoas que não sorriem porque secaram por dentro.

4 comentários:

► JOTA ENE ◄ disse...

Já reparaste que ninguém se importa com o estado a que o País chegou?

Não estamos deprimidos coisa nenhuma...

Estamos é inertes, abúlicos e moribundos!!!

Manuel Veiga disse...

por vezes o "destempero das tempestades" lavam a alma...

... e fecundam os tempos!

beijo

Manuel Veiga disse...

"lava a alma" e "fecunda os tempos", rectifico.

Anónimo disse...

Não há seca que não acabe nem sóis
que não se apaguem.Reza-se pela chu-
va e esta vem como tempestade devo-
radora. Mas a morte pela seca ou pe-
lo dilúvio não é senão o sorriso discreto de quem não secou por dentro, o sangue sobre com o seu ADN
irrepetível.

Rocha de Sousa