domingo, novembro 01, 2009

Dia de Todos os Santos

…Oh as casas as casas as casas mudas testemunhas da vida elas morrem não só ao ser demolidas elas morrem com a morte das pessoas As casas de fora olham-nos pelas janelas Não sabem nada de casas os construtores os senhorios os procuradores Os ricos vivem nos seus palácios mas a casa dos pobres é todo o mundo…
Ruy Belo    
Hoje é dia de romagem aos cemitérios onde não fui, mas devera.   
Ou antes, não, porque o dia dedicado aos Finados é amanhã, 2 de Novembro, e eu não me esqueço. Hoje é dia de partilha, entrar no jogo das crianças pedindo o «Pão por Deus», distribuir as guloseimas que não custa ter à mão para encher os sacos abertos, mantendo um ritual muito nosso, a despeito da nova cultura globalizada do Halloween. Nem tarda que não exista mais o «Pão por Deus», tradição perdida nas cidades; tradição essa que deveria ser revitalizada nos tempos maus em que grassa a falta de pão, por chocante que possa parecer a frase dita assim. Uma acção concertada junto aos supermercados para ajuda aos necessitados teria agora um pendor de tradição, aliada à necessidade de real ajuda a que, decerto, todos seriam sensíveis.  
Não é que seja muito importante para mim a presença junto às sepulturas, porque prefiro lembrar os meus afectos perdidos olhando as ruínas que se tornam belas com a pintura do tempo, como as memórias deles, sempre tão presentes, envelhecendo soberbas na sua decrepitude, condenadas à destruição para dar lugar a novos espaços. Amanhã talvez o tempo e a vontade aguentem a viagem até ao lugar de repouso dos mais próximos, onde todas as campas estarão já vestidas de flores e seja mais fácil para mim revisitar o campo sagrado.  
Hoje, o tempo cinzento, parado, quieto, morno, condiz com o dia. Deve ser assim o lugar eterno.  

1 comentário:

Rocha de Sousa disse...

Morno, sim senhor, o lugar eterno,
sem chuva nem vento, uma janelinha
para espreitar os mortos chegando.
Eu gosto disso. Mas além do «Pão de
Deus», e apesar da desertificação,
há por esse norte acima, sobretudo
nas aldeias «resistentes», muitas
festas afamadas, onde a Idade Média
faz parar os carros e atrair os con-
dutores. Tenho-as visto, este ano,
e deixaram-me ao mesmo tempo fasci-
nado e perplexo.