segunda-feira, outubro 13, 2008

Sentir



Quando ontem adormeci

Na noite de S. João

Havia alegria e rumor

Estrondos de bombas luzes de Bengala

Vozes cantigas e risos

Ao pé das fogueiras acesas.


No meio da noite despertei

Não ouvi mais vozes nem risos

Apenas balões passavam errantes

Silenciosamente

Apenas de vez em quando…

o ruído de um bonde

cortava o silêncio

como um túnel.

Onde estavam os que há pouco

Dançavam

Cantavam

E riam

Ao pé das fogueiras acesas?


- Estavam todos dormindo

Estavam todos deitados

Dormindo

Profundamente.

Manuel Bandeira




As coisas exteriores aos homens não são importantes. Só a natureza humana interessa ao caminhar do mundo. Não é a riqueza, não é o título de nobreza, não é o estatuto social ou sequer o aspecto físico. Já deu para perceber que ser-se, sentir-se homem ou mulher, não depende dos órgãos exteriores que levam ao registo do sexo de um ser humano.


O que faz pulsar a humanidade é o que brama no cérebro de cada um, é a vontade, a força dos sentidos, as inquietações, os desejos. É a necessidade de ir mais além de si próprio, de quebrar os cânones, de vencer os obstáculos, de almejar o impossível. É a certeza de que a escalada se faz com determinação e ousadia, com firmeza e denodo, sem falhas. Com garra.


As ligações entre os homens não respeitam hoje as normas estabelecidas há séculos. As religiões foram – e ainda são – o sustentáculo da sociedade porque decretaram leis, instituíram regras, organizaram as relações entre as pessoas. Mas o homem reage como ser pensante, e de dentro dele brotam outros caminhos para que o respeito surja sem obrigações, sem medos, sem restrições, com a simplicidade da natureza em volta. Mas é preciso ter força e investir fundo nos sentimentos porque o caminho é longo e, sem voz, as montanhas calam-se.


Às vezes penso que o Homem caminha para a extinção porque adultera tudo.




5 comentários:

vida de vidro disse...

Excelente reflexão. Começa a escutar-se o silêncio das montanhas.
Amiga deixei-te um mimo lá no Vemos, ouvimos e lemos. **

tulipa disse...

Gostei de ler.
Belo momento de reflexão.

Eu bem quero, mas a vida não me permite. Passar 1 x por semana nos blogues dos amigos seria o ideal, mas...quem fala em ideais nesta época...há crise de toda a maneira e feitio.
Difícil, muito complicado.

Eu coloco-te uma questão: qual a tua opinião sobre as «praxes»?

Votos de boa semana.
Beijinhos.

Philia disse...

Olá,
Somos um blogue de muuuiiito sentimento.
Aguardamos a tua visita.
Até lá,
xD

Rocha de Sousa disse...

«O homen caminha para a extinção porque adultera tudo». O planeta em
que vive atingirá a morte, com a ajuda do homem, e ficará como Marte
ou a Lua.´A vida animal acabará.Por
agora a população do Mundo ainda está a crescer. Rebentará talvez tão rapidamente como aconteceu com os dinosauros, portentosas presen-
ças numa paisagem toda utilizável,
sem homens.
A crise financeira, mostrando o lado torpe de como o homem utiliza
contra si mesma os seus instrumen-
tos tem um perturbador cunho de anuncição apocalíptica.
Rocha de Sousa

M. disse...

Tenhamos esperança. Nem que seja para não enlouquecermos de desânimo.