Que me poise a marca incandescente na testa.
Tocará na meninge como num cofre.
Aceito coroas para depor sobre mim.
Deixo os pés do abeto empurrar
com a biqueira violetas. A fragrância
delas leva-me a imaginar poemas
em branco. Depois de percorrer um longo encadeamento
de sílabas sou outra. Vejo assomar a natureza nua.
Fiama Hasse Pais Brandão
A ameixoeira floriu. Foi o sol, o calor, o seu tempo de repouso chegando ao fim, chegando a dizer da primavera, a lembrar a fruta nova que o verão traz consigo no ventre.
Já se ouve o melro em toadas nos dias mais quentes, os passarinhos novos procurando lugar para os ninhos nas roseiras que se cobrem de folhagem brilhante e fecham o gradeamento.
Mas a floração é breve, breve a brancura porque as folhas despontam e a pureza foi-se.
Assim tudo se repete, uma a e outra vez, quantas primaveras, quantas folhas caídas, quantos anseios, ternuras, abraços e logo depois a lonjura a separar os continentes, as vidas.
Quero ainda acreditar no amor como um direito à vida mas os anos marcam o pensamento e creio no amor como um dever dela para que os mundos se repitam, não um amor de exaltação mas um amor de beatitude que contém a lucidez para suportar a rigidez do inverno, a falta de folhas nos troncos retorcidos, a seiva correndo com força por dentro, cada vez mais densa, cada vez mais dependente das raízes fundas, a encontrar nelas alimento novo.
Mais uma flor abriu. Há-de ser uma violeta.