«…E impondo silêncio ao rebanho, que acabara de beber, pôs-se atentamente à escuta do tilintar dos chocalhos na margem oposta.
“O rebanho parecia ser o mesmo, lá isso… Agora o pastor é que podia ser outro que não a Rosária…”
Senão quando, uma ideia lhe acudiu que o fez sorrir de contente. Atirou ao chão a manta e o marmeleiro e, puxando para diante o bornal, feito da pele de uma ovelha branca, morta pelas segadas, tirou de lá a sua flauta e pôs-se a tocar apressadamente um trecho de cantiga rústica.
No mesmo instante, uma voz sonora gritou-lhe:
– Eh lá, Gonçalo, és?
O pastor desatou a rir.
– Houlá, Rosária, eu mesmo! Guarde-te Deus, pimpona!
E logo a voz fresca da rapariga lembrou:
– Não te esqueceu a moda, rapaz!
– Isso esquece ela!... Ouviste, Rosária? – Se outra fosse que ma tivesse ensinado…
Nesse meio tempo já o Gonçalo tomara a manta e o marmeleiro para ir ter com a Rosária. Mas primeiro perguntou:
- Boto pela ponte ou és tu que vens, ó cachopa?...»
Trindade Coelho «Os Meus Amores»
Esta chuva teimosa que não deixa sorrir o sol encharca os botões de rosas que espreitam ainda escondidas no seu manto verde, entreaberto de promessas.
A Primavera não deixa de repetir-se como uma promessa e por isso se mantém a mais bela estação do ano. É o início, o despertar, o primeiro raio que aquece, o primeiro amor que chega e logo fenece e esquece para um registo diferente do mesmo.
É o amor que nos une em todas as circunstâncias e sem ele a vida nada era que coubesse na imensidão do cosmos. Somos nós que temos de encontrar o caminho que nos rege para aceitar repetidas primaveras quantas vezes invernosas, quantas vezes chuvosas, ventosas, tempestuosas, mas sempre de esperança porque o verão está a chegar, porque o outono vai varrer as folhas e o inverno traz o repouso. Nunca eterno, porque tudo renasce na primavera de novo. Somos nós o grande senhor que nos conduz, que nos mata a sede, que nos une, que nos liberta. Todos os seres da Terra.
«…Et ainsi jusqu’au simple berger. Car celui-là, qui veuille quelques moutons sous les étoiles, s’il prend conscience de son rôle, se découvre plus qu’un serviteur. Il est une sentinelle. Et chaque sentinelle est responsable de tout l’Empire.»
(Saint Exupéry)
“O rebanho parecia ser o mesmo, lá isso… Agora o pastor é que podia ser outro que não a Rosária…”
Senão quando, uma ideia lhe acudiu que o fez sorrir de contente. Atirou ao chão a manta e o marmeleiro e, puxando para diante o bornal, feito da pele de uma ovelha branca, morta pelas segadas, tirou de lá a sua flauta e pôs-se a tocar apressadamente um trecho de cantiga rústica.
No mesmo instante, uma voz sonora gritou-lhe:
– Eh lá, Gonçalo, és?
O pastor desatou a rir.
– Houlá, Rosária, eu mesmo! Guarde-te Deus, pimpona!
E logo a voz fresca da rapariga lembrou:
– Não te esqueceu a moda, rapaz!
– Isso esquece ela!... Ouviste, Rosária? – Se outra fosse que ma tivesse ensinado…
Nesse meio tempo já o Gonçalo tomara a manta e o marmeleiro para ir ter com a Rosária. Mas primeiro perguntou:
- Boto pela ponte ou és tu que vens, ó cachopa?...»
Trindade Coelho «Os Meus Amores»
Esta chuva teimosa que não deixa sorrir o sol encharca os botões de rosas que espreitam ainda escondidas no seu manto verde, entreaberto de promessas.
A Primavera não deixa de repetir-se como uma promessa e por isso se mantém a mais bela estação do ano. É o início, o despertar, o primeiro raio que aquece, o primeiro amor que chega e logo fenece e esquece para um registo diferente do mesmo.
É o amor que nos une em todas as circunstâncias e sem ele a vida nada era que coubesse na imensidão do cosmos. Somos nós que temos de encontrar o caminho que nos rege para aceitar repetidas primaveras quantas vezes invernosas, quantas vezes chuvosas, ventosas, tempestuosas, mas sempre de esperança porque o verão está a chegar, porque o outono vai varrer as folhas e o inverno traz o repouso. Nunca eterno, porque tudo renasce na primavera de novo. Somos nós o grande senhor que nos conduz, que nos mata a sede, que nos une, que nos liberta. Todos os seres da Terra.
«…Et ainsi jusqu’au simple berger. Car celui-là, qui veuille quelques moutons sous les étoiles, s’il prend conscience de son rôle, se découvre plus qu’un serviteur. Il est une sentinelle. Et chaque sentinelle est responsable de tout l’Empire.»
(Saint Exupéry)
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