A juventude é irreverente e fresca, mas a idade é bonita.
Só a idade madura dá ao Homem a sabedoria da vida e o encanto da beleza, a sensibilidade para a tolerância. A velhice é inexorável e só a iliteracia, a incivilidade e a incultura da civilização actual pode olhar um velho com desprimor.
É o mal do século, dizem os jovens porque se julgam incólumes; é a jóia da coroa, pensam os idosos de coração jovem, de espírito culto, de alma intensa. A saída para o aumento do número de idosos, proporcional ao decréscimo da natalidade, é uma reestruturação das mentalidades, é o retorno às origens, aos povos que ensinam aos mais pequeninos o amor e o respeito por aqueles que nasceram antes de nós. Depois é toda uma educação para o culto do envelhecimento com sabedoria, com tolerância para com os mais novos, para uma transmissão dos valores que nunca deixam de o ser.
Deus Pátria e Família, olhados numa perspectiva diferente da que foi imposta às gerações que findam, compreendidos de uma outra forma mais lata, continuam a ser valores, e valores a respeitar agora e sempre. A família deve ser prezada, a família já nem sempre monoparental e que exige mais tolerância porque polifacetada; a pátria que não é só este pequeno rectângulo periférico dum continente, mas uma parte integrante dele e alargada ao infinito dos falantes da nossa língua que se estendem e mantêm nos cinco continentes; e a religião que não é apenas o culto da «Senhora de Fátima», mas o abraço ecuménico de todas as religiões, a compreensão de que todos devemos respeitar as opções de cada um, professem eles o Cristianismo, o Judaísmo ou o Islamismo – braços afinal de uma mesma religião –, sejam eles Budistas ou Hindus; sejam eles ateus.
Que temos orgulho de ser portugueses, não me resta qualquer dúvida; que temos capacidade para nos impor ao mundo pela positiva, também não. Mas para que se rentabilize todo este potencial é preciso, é urgente, que se invista fortemente na educação não só das crianças, mas de todos nós, colectivamente, seja na postura ecológica, na relação humana com os idosos, no cuidado e investimento nos mais novos, desde cedo, incutindo neles normas e regras definidas com rigor.
Neste momento temos ainda um muito grande obstáculo a transpor que é de cariz económico e sejamos directos: não se pode pensar em cultura com miséria, ninguém aprende nada na escola de barriga vazia. E a fome existe em Portugal no século XXI, e só há fome porque há corrupção; esta é uma palavra feia, mas é só pensar um pouco que a encontramos a todos os níveis porque a nossa educação se faz dentro dela, convive-se com ela desde a mais tenra idade, basta auscultar os pensamentos das crianças na escola. Os pais das gerações mais recentes já não ensinam aos seus filhos o rigor da seriedade, do respeito, da verdade; ensinam as regras da competitividade a qualquer preço. Vale tudo. Depois, as palavras adquiriram um valor semântico diferente: sinceridade significa atirar na cara de um professor, por exemplo, que ele não ensina nada; afectividade significa sexo; orgulho, significa soberba; higiene, significa ostentação; saber significa prepotência; amizade não é tolerância e cumplicidade, é puro interesse ocasional.
Há que repensar o futuro. As gerações mais novas que se cuidem.
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