cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita
[…]
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Carlos Drumond de Andrade
Quando pela manhã cedo me vejo frente ao mar batido, as ondas serenas
desembrulhando aquelas rendas de espuma aqui e além e mais além, quando os
surfistas parecem pássaros pousados sobre as águas numa espera tranquila e os
pescadores acendem o primeiro cigarro numa outra espera, sou eu que espero de
mim a compreensão do mundo que os homens construíram sem paz e sem tolerância,
desabridamente ambiciosos.
Pergunto a mim própria se esse mundo que evoco não vai acordar um dia menos
cruel e tenhamos finalmente a noção de que somos únicos e a força de que
precisamos para nos equilibrar, numa natureza cada vez mais exaurida, tem de
vir do respeito por todos e cada um. Um destes dias acordei para o mundo aqui,
como usualmente, diante de mim o écran do computador e nele o desenho de uma
ilha grande do mundo que sempre vi e imaginei branca, totalmente coberta de
neves eternas, montanhas de neve, pintada de castanho. Eis a Gronelândia cor de
terra, riscada levemente de branco, e eu estarrecida perante o facto consumado
de ver a água doce a desaparecer do planeta e os mais pessimistas visionários a
verem concretizados os vaticínios mais negros, o fim da espécie, das espécies,
à míngua de água.
Não pode ser verdade que os povos não estejam, não sejam minimamente crescidos
para iniciar rapidamente uma verdadeira cruzada a favor do equilíbrio nos
gastos do líquido precioso. Quando a cultura ocidental acordar para essa
realidade porque lhe ardem as barbas, já povos inteiros feneceram, já culturas
inteiras desapareceram. E não tenho a certeza se vai ser possível reverter os
danos provocados (in)conscientemente por todos nós, viajantes distraídos do
cosmos.
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