«- A senhora imagina lá! Caiu de mais de três homens de altura. Parece de borracha, esta criança. Meteu-me um susto…
- E a mim?! Eu quis descer ao quintal e não pude. Fiquei pregada. Olhe como as mãos me tremem ainda…
E com doçura, num indirecto agradecimento ao céu:
- É bem certo: ao menino e ao borracho põe-lhes Deus a mão por baixo.
Mano João, que ficara, ante aquele rebuliço todo, a manobrar tranquilamente o seu exército de chumbo, ouviu o ditado, puxou um cavaleiro mais para a frente, colocou o oficial de bandeira mais ao centro, e perguntou:
- Ó mamã, Nosso Senhor põe a mão por baixo a todos os meninos?
- Põe, sim. É ele quem os protege.
- Mesmo aos mais pequeninos?
- A esses principalmente. Quanto mais inocentes, mais Deus vigia por eles.
Mano João tirou da caixa três porta-machados com altas barretinas e longas barbas, meteu-os em forma, a um por um, pausadamente. Após objectou:
- Então Nosso Senhor, coitadinho, anda sempre a lavar as mãos…»
Augusto Gil
- E a mim?! Eu quis descer ao quintal e não pude. Fiquei pregada. Olhe como as mãos me tremem ainda…
E com doçura, num indirecto agradecimento ao céu:
- É bem certo: ao menino e ao borracho põe-lhes Deus a mão por baixo.
Mano João, que ficara, ante aquele rebuliço todo, a manobrar tranquilamente o seu exército de chumbo, ouviu o ditado, puxou um cavaleiro mais para a frente, colocou o oficial de bandeira mais ao centro, e perguntou:
- Ó mamã, Nosso Senhor põe a mão por baixo a todos os meninos?
- Põe, sim. É ele quem os protege.
- Mesmo aos mais pequeninos?
- A esses principalmente. Quanto mais inocentes, mais Deus vigia por eles.
Mano João tirou da caixa três porta-machados com altas barretinas e longas barbas, meteu-os em forma, a um por um, pausadamente. Após objectou:
- Então Nosso Senhor, coitadinho, anda sempre a lavar as mãos…»
Augusto Gil
3 comentários:
Que fotografia linda. Dou por mim parada a olhar, ... é uma imagem belíssima!
O blog é um doce.
Vive-se o gosto, o gozo e o cheiro de uma vida de palavras.
Uma rodinha de ternura.
Bem haja pelas palavras bonitas que escreve, oxale.
Há momentos em que os nossos olhos abertos vêem o que não está lá. Sabe?, assim como que vendo o passado no presente. A cores! Vejo-a, a si, a passar a porta, sapato preto de salto, prega ligeira no bico contido, a falar-me com as mãos, com os olhos, com uma ternura delicada, a sua, com que passei a conviver. Revejo-a agora nas palavras que escolhe, nos textos seus e dos outros, nas memórias que, não sendo as minhas, sem pejo cobiço. E, pelo meio, confirmo que a vida tem destes apeadeiros de crescimento e enlevo. Bem haja!
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