«É a altura de os olhos das raparigas, acrescentados com sorrisos de desdém, servirem de capinhas para a função, embora aqui, ao contrário das toiradas, as capas delas prepararem os toureiros para levarem a maquia. Os rapazes enchem-se de brios, combinam formas novas de correr gado bravo – tu desafias de um lado e eu assobio-lhe do outro – e a afoiteza acaba por vir, apesar do medo varejar as pernas. Soltam-se as mãos do cercado, já se dão alguns passos para dentro da arena.
– Eh, vaca! Eh, vaca!
Com todas as distâncias bem medidas, o bicho percebe logo que não chegou a altura de se cansar. Escarva o chão, procura as ervas e põe-se a ruminá-las, assim como assim não perderá tudo, aguardando com santa paciência que a matula resolva pensar que ela não marra. Muitas vezes, sem ninguém esperar, surge um bêbado entre vagas de vinho e «pesporrâncias». O gentio aplaude-o com manha. E o vinho encrespa-se, resmunga qualquer coisa, enquanto deita a mão à fralda do homem que o leva às cavaleiras, e dali mesmo, sem poder arriscar mais um passo, lança o desafio…
– Eh, vaca mocha!... Se tu não marras, marro eu…
Conhecendo as regras da etiqueta, a vaca aceita o convite e vai marrar. Mas como percebe com quem trata no corpo lasso do borracho, lembra-se do ditado e põe ela, salvo seja, a mão por baixo do odre. Toma-o nos cornos engravitados e vai depô-lo a um canto da arena, sem mácula, se não prefere deixá-lo sobre um monte de bosta, sem beliscadura também, embora com bastante cheiro…»
– Eh, vaca! Eh, vaca!
Com todas as distâncias bem medidas, o bicho percebe logo que não chegou a altura de se cansar. Escarva o chão, procura as ervas e põe-se a ruminá-las, assim como assim não perderá tudo, aguardando com santa paciência que a matula resolva pensar que ela não marra. Muitas vezes, sem ninguém esperar, surge um bêbado entre vagas de vinho e «pesporrâncias». O gentio aplaude-o com manha. E o vinho encrespa-se, resmunga qualquer coisa, enquanto deita a mão à fralda do homem que o leva às cavaleiras, e dali mesmo, sem poder arriscar mais um passo, lança o desafio…
– Eh, vaca mocha!... Se tu não marras, marro eu…
Conhecendo as regras da etiqueta, a vaca aceita o convite e vai marrar. Mas como percebe com quem trata no corpo lasso do borracho, lembra-se do ditado e põe ela, salvo seja, a mão por baixo do odre. Toma-o nos cornos engravitados e vai depô-lo a um canto da arena, sem mácula, se não prefere deixá-lo sobre um monte de bosta, sem beliscadura também, embora com bastante cheiro…»
Pois tenho. Ambos doces, doces, suaves como o melhor chocolate. Quentes, macios, quando repousam na intimidade, entregues e confiantes. São senhores de toda a casa, teimam em escolher o lugar mais desadequado no armário do quarto quando são forçados a esconder a sua presença, esparramam-se sensuais nos lençóis cheirando a lavado, na roupa acabada de passar. Nada os demove sempre que a porta se abre pela manhã cedo, dando acesso a quem ainda dorme para um primeiro aconchego.
Depois a rua, a corrida aos pardais, a espera às lagartixas, ao amigo, as brincadeiras. Mas o quintal é mais atractivo à noite nestes dias calorentos; há ruídos que escapam aos humanos e a sensibilidade do ouvido atento e arguto recolhe da noite o ciciar as ervas, o rumorejar dos insectos, o passarinhar de algum roedor.
Eles não são iguais na forma, nem no feitio, nem na voz. E nalgumas coisas mais. Para um, a hora de higiene pessoal é de partilha de espaço, salpicos do chuveiro, hora de saciar a sede com água morna sabor a sabonete, mais equilibrismos pelas bordas da banheira. Para outro é hora perfeita de respeito pela privacidade do chefe da matilha, há que ficar de guarda, fora de portas, não vá acontecer molharem-lhe os bigodes…
Nenhum deles pesa muito na balança. Qualquer deles, sozinho, enche a vida e os corações de ternura.
Depois a rua, a corrida aos pardais, a espera às lagartixas, ao amigo, as brincadeiras. Mas o quintal é mais atractivo à noite nestes dias calorentos; há ruídos que escapam aos humanos e a sensibilidade do ouvido atento e arguto recolhe da noite o ciciar as ervas, o rumorejar dos insectos, o passarinhar de algum roedor.
Eles não são iguais na forma, nem no feitio, nem na voz. E nalgumas coisas mais. Para um, a hora de higiene pessoal é de partilha de espaço, salpicos do chuveiro, hora de saciar a sede com água morna sabor a sabonete, mais equilibrismos pelas bordas da banheira. Para outro é hora perfeita de respeito pela privacidade do chefe da matilha, há que ficar de guarda, fora de portas, não vá acontecer molharem-lhe os bigodes…
Nenhum deles pesa muito na balança. Qualquer deles, sozinho, enche a vida e os corações de ternura.
1 comentário:
Tão lindos!!!Passei rápidamente só para dizer boa semana e...dei-me com estas duas ternurinhas...muitas festinhas e mimalhices para ambos e para a dona claro,que também é um amor.
Ana
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