Dans ma cervelle se promène,
Ainsi qu'en son appartement,
Un beau chat, fort, doux et charmant.
Quand il miaule on l'entend à peine,
Ainsi qu'en son appartement,
Un beau chat, fort, doux et charmant.
Quand il miaule on l'entend à peine,
Tant son timbre est tendre et discret;
Mais que sa voix s'apaise ou gronde,
Elle est toujours riche et profonde.
C'est là son charme et son secret.
Mais que sa voix s'apaise ou gronde,
Elle est toujours riche et profonde.
C'est là son charme et son secret.
Baudelaire
Dotado consideravelmente pela mãe natureza, é um belo
exemplar de macho europeu, olhar felino e atrevido, controlando o território
dele e o dos outros sem um mínimo de noção de liberdade democrática, com
respeito pela dos outros.
Então surge pelas manhãs, sem identificação de estado
civil pois não apresenta sinais de aliança com algum ser humano, uma coleira
vermelha por exemplo, que ficaria a matar na sobrecasaca cinzento-escuro que
enfeita um corpo esbelto e bem nutrido e não explica minimamente o apetite
voraz pela mesa do alheio.
Despudoradamente invade a casa se há portas abertas – por
norma há, da cave; da cozinha fartas vezes – descendo, subindo escadas se
houver silêncio nos afazeres domésticos, invadindo, tentando alargar
território. Insiste sempre, apesar das corridas a que é sujeito inúmeras vezes.
Corre para o jardim, esgueira-se pela horta ao fundo, trepa o muro e olha,
volta-se ainda, atrevido.
Tem uma altíssima auto-estima. Vive bem e quer viver
melhor, que lhe importa que os outros passem fome, sejam menos lestos na
passada, apanhem com chuva e granizo, sofram o frio da neve, não tenham
agasalho à altura. Ele é que tem de manter elevada a sua auto-estima. Não lhe
conheço as origens, se assim o educaram ou se ele próprio se educou,
felinamente, desenvolvendo as tendências naturais de poder inerentes a ser
dotados de inteligência, com um sentido de sobrevivência requintado.
Do outro lado um outro ser idêntico, bravo e inteligente,
mas frágil ainda pela idade e condição, eventualmente a tentar defender um
território que já assume como seu. Atreveu-se a enfrentá-lo e o resultado ficou
à vista: uma unhada no nariz, um braço partido, o corpo todo moído.
O digno Cid (El Cid, el Campeador) vai ser internado hoje
no Hospital Veterinário para amanhã de manhã lhe recomporem a patinha que traz
levantada e tanta falta faz para as suas necessidades de higiene que insiste em
repetir. Tudo vai correr bem, o Mio Cid vai voltar a adoçar os meus dias com a
sua alegria esfuziante.
2 comentários:
soberbos os gatos - em sua verdade!
beijos
Eu gosto de ouvir falar de bichos
como de pessoas.Certos bichos, so-
bretudo gatos, cães e canários.
Mas este gato deixa-me inveja: que
naturalidade, que bondade em volta,
tem território sem grandes restri-
ções e tartamlhe carinhosamente da
pata «porque lhe faz falta». De verdade que acho bonito e eu at+e gostava de ter a autoestima dele.
Rocha de Sousa
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