Esta é a
madrugada que eu esperava
0 dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
0 dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Revolução
Como casa
limpa
Como chão varrido
Como porta aberta
Como chão varrido
Como porta aberta
como puro
inícío
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como tempo novo
Sem mancha nem vício
Como a voz
do mar
Interior de um povo
Interior de um povo
Como página
em branco
Onde o poema emerge
Onde o poema emerge
Como
arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação
Do homem que ergue
Sua habitação
Sophia de Mello Breyner
Eu não tenho
à minha frente um monte que me oprima, tenho ruídos outros que me ofendem os
tímpanos e apagam as vozes cá dentro. Tenho as madrugadas nem sempre limpas,
nem sempre puras.
Hoje é o dia
em que no meu país se comemora a Liberdade, mas a liberdade é todos os dias que
trazem a cada um de nós um pouco mais de espaço, um pouco mais de justiça para
que se cumpram os nossos anseios mais legítimos. E, enquanto
houver humilhações para os que sofrem, e os prevaricadores, embora condenados
pelos tribunais, continuarem em liberdade, enquanto os que têm fome virem as
mesas repletas de iguarias daqueles que lhes tiram o pão, enquanto a noção de
liberdade para uns, for sinónimo de opressão para outros, não há
razão para comemorar.
Esperemos
com fé que este dia volte mais afável, em que os cravos não sejam vendidos mas
dados, oferecidos aos homens para as armas florirem, esperemos com fé que chegue
breve o dia em que todos colham o que produzem, em que se partilhe entre todos
a alegria de um país mais justo. Lembremos que a liberdade tem limites, para aos
mais pobres e para os mais ricos, se nesta dicotomia se tiver em conta apenas o
plano económico. Porém é preciso olhar em volta, ver a riqueza como um todo e
valorizar o dom de uma natureza pródiga deste país ímpar na Europa, deste povo
amável, esta gente capaz de se erguer sem tristeza, orgulhosa de estar no
mundo, nos mundos. Demos tempo ao tempo.
Sejamos
apenas nós.
Como página em branco
Onde o poema emerge
Onde o poema emerge
Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação.
Do homem que ergue
Sua habitação.
1 comentário:
A sohia sabia mentir para dizer a verdde. E eu estaria tentado a di-
zer que o brilho de Abril se esvai-
ra na indigência geral.
Pois olhe que este ano achei só- brio, mais ou menos limpo de atoar-
oarlamentares, um cântico do povo
à saída, outros vogando pelas suas
terras.
Estiveram mal Mário Soares e a As-
sociação 25 de Abril. Não é o re-
gime que é julgado na assembleia,é
a história (militar e popular) de
um dia autêntico, aberto a todos naquele inesquecível 1º de Maio.
Rocha de Sousa
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