Não houve decerto a gota que fez transbordar o vaso, mas o simples reconhecimento de que tinha já transbordado. Aconteceu foi que a humanidade em geral se modificou e no quadro universal a persistência no logro a denuncia como logro. Um novo equilíbrio se instaurou no modo generalizado de se ser humano por sobre o desgaste do anterior, e o erro denunciou-se como a ausência do cómico da graça de que ríramos ou da sedução da mulher que amámos. Virgílio Ferreira in «Pensar» Ontem ouvi o Fausto soando pelas Montanhas Azuis, o mesmo Fausto que conheci na sua juventude, dedilhando a guitarra no final de curso liceal, num espaço de Portugal antigo, nos idos sessenta do outro século. Ontem ouvi falar do percurso de um país de quase 900 anos de História, um país de diáspora, um país que pulsa em arritmias de crises mal curadas, incapaz de tomar decisões próprias, saudosista eterno dum Sebastião diluído no nevoeiro dos séculos, sujeito aos Wellington e Beresford, sem se dar conta que existe em cada um de nós aquela gota de água capaz de formar um curso de água, capaz de formar um rio, capaz de afastar por largos quilómetros a fúria do mar pintando-o de barro, como o Zaire ou o Amazonas. Por querer ou sem querer, estamos em guerra. Não uma guerra de trincheiras, não uma guerra de aviões e torpedeiros, não uma guerra de catanas e canhangulos. Digo de uma outra Grande Guerra, saída do século novo, uma guerra de números, num terrorismo novo, comandado por agências ditas de rating. E não é uma guerra leal. O dia apaga as cores devagar quando a noite vem. É a hora mágica do acender das fogueiras eternas de todos os lugares da Terra, onde o lebréu de aquece e os pensamentos dos Homens passam a uma nova dimensão. |
sábado, novembro 26, 2011
A Terceira Guerra
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1 comentário:
uma gota de água e o rio transborda. quero acreditar...
admirável teu texto.
beijo
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