terça-feira, novembro 08, 2011

C’est la Rose l’Important


 
A realização deste casamento, bem como a sua validade, tem sido alvo de controvérsia e polémica desde o século XV até à actualidade, até porque, a ter existido, podia ter alterado o rumo da sucessão ao trono após as Cortes de Coimbra de 1385 e, consequentemente, o rumo da História. A diferença de opiniões começa logo no próprio século XV, com os cronistas que escreveram sobre este período. Assim, se para Rui de Pina é ponto assente que Pedro e Inês casaram, embora tivesse havido quem levantasse algumas dúvidas porque

«não fez esta declaração logo como reinou, mas daí a três anos, & porém ele a este tempo, a mandou daí em diante chamar, & intitular, Rainha de Portugal e a seus filhos Infantes»

já Fernão Lopes desacredita as palavras do rei ao achar muito pouco provável

«que um casamento tão notável e que tantas razões tinha para ser lembrado, houvesse em tão pequeno espaço de esquecer, assim àquele que o fez co o aos outros que foram presentes, não lhes lembrando o dia nem o mês.»

Ana Rodrigues Oliveira, in «Rainhas Medievais de Portugal»




Tem de haver grandeza na humildade da perda. 

Aos vencedores o pódio, a glória, o champanhe derramado, as primeiras páginas dos jornais, o lugar mais alto nos escaparates dos livros, o nome inscrito na galeria, na rua duma cidade qualquer, um busto numa praça, num jardim. Aos perdedores, a glória de se terem batido com os maiores, a coragem da luta e o reconhecimento da sua falta de zelo.

Parece que Napoleão conviveu com um homem grande na arte da liderança, da mobilização em torno de um objectivo, um homem que ele não estimava particularmente, mas a quem reconhecia as qualidades que lhe faltavam. Esse homem foi Talleyrand, e o segredo do seu sucesso para a motivação e empenho dos seus colaboradores, estava precisamente na condenação do excesso de zelo. Chegou a dizer que no zelo entram sempre três quartas partes de estupidez.

É que a falta de zelo não é sinónimo de incúria. É tão só desvalorizar aquelas pequenas coisas que fazem a diferença entre os que agitam a garrafa no pódio e os que recebem os salpicos na hora da glória. Há os que são sempre vencedores porque são zelosos e o seu nome, obra, fica gravado na taça. Depois há os outros, os sem nome gravado, senhores de uma obra sua, grande porque sim, que não cabe na estreiteza da placa, na estreiteza de um nome.

Nem é sem motivo que Fernando Pessoa não conseguiu SER inteiro sem os múltiplos heterónimos, ele, que em vida nunca subiu ao pódio.

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