Toda a explicação assenta no inexplicável. Não tentes pois explicar seja o que for até aos últimos filamentos da explicação, ou seja, inexplicáveis. Equilibra-te no instável do que se diz e do que se não pode dizer. Se atinges o limite, cala-te. E é aí, nesse silêncio, depois de dizeres tudo, que possivelmente começas a dizer alguma coisa.
Vergílio Ferreira, in «Pensar»
O que fazer com a liberdade?
Que fazer com a imensidão no meio de um oceano quieto, sem amarras que o prendam, sem ruídos de motor, sem remos, sem velas? Não há brilho do sol, nem chuva, nem vento, nem sequer a brisa passa. Só a lua resplende pintando brilhos na superfície das águas.
Ocorre-me a história da raposa daquele romance agora arredado dos meninos, a raposa matreira que fez o lobo engolir toda a água do poço onde ele viu um queijo tentador que ela sabia ser a imagem daquela lua magana postada no céu.
E vejo agora, nítida, como há muito não via, a sombra do homem castigado pelos deuses, carregando um feixe de lenha às costas.
5 comentários:
Belas reflexões...
Querida amiga, bom Domingo e boa semana.
Beijos.
Há muito tempo, vi um filme em que
um rato dos porões de certo car- queiro que se confrontava com a
iminência de um naufrágio, o navio
metedo água de forma fulminante e
a tripulação morrendo sob fracturas
e explosões das máquinas. O rato aparece sempre e trepar para pata-
mares acima das águas e acaba por
ficar num pequeno tejadilho quadra-
do, última parte ainda emerssa do
cachão, uma ilha quadrada, prestes
a desapercer, onde o rato, ainda
vivo e livre procurava em todos os
sentidos uma saída sem água pela frente. Desde criança que conservo
esta terrível imagem.
Dedico-a como comentário ao post
«Que fazer da liberdade?» raramen-
te ela se exprime por inteiro, o limite está em nós mesmos e nas condições em que somos cercados
pelo próprio vazio. Somos ratos a
perder território, em pleno Univer-
so, lutando por uma causa perdida.
A liberdade do vazio. Creio que só o tempo o irá preenchendo, quase sem o sentires.
Um beijo grande
o pesado fardo da liberdade.
Satre (quem, hoje, lê?) passou por aqui?...
magistral texto.
beijos
Nem no silêncio,
a que tantas vezes nos vimos obrigados,
somos livres. Sempre carregaremos o nosso feixe misterioso.
O Matisse pinta o céu, a Kitty escolheu morrer quando saí. Nunca esqueceremos esses olhos-companhia.
Beijos meus, no lugar íntimo dos nossos bichos.
Bettips
Enviar um comentário