(...) «A China gastou, em 2006, 19 mil milhões de euros em investigação de tecnologias de censura da net. E está já a exportá-las para outros países. Esperemos não vir a descobrir à nossa própria custa que, quando um homem não é livre, a liberdade de todos os outros está em risco.»
Ler é um atentado à nossa integridade emocional. E nem digo ler um manual de filosofia ou uma grande obra de um escritor conceituado, um qualquer prémio Nobel. Felizmente basta-nos ler o que sai da pena leve de um simples fazedor de crónicas, daqueles seres como nós, companheiros semanais que até nos olham com bonomia do fundo da página, de cigarro na mão politicamente incorrecto.
Politicamente correcto, Manuel António Pina, na última página da Notícias Magazine, traz-nos a Grande Muralha da China, uma das maravilhas do mundo, e com ela nos acena sentindo nós a dor dos operários que a construíram sabe-se lá com que coacções – a palavra do presente.
Sou coagida a acordar para o que tenho entre mãos, este computador que até tem um IP que eu desconheço e a Microsoft conhece, mais a Google que controla o diário que não tenho mas poderia ter, mas sabe dos meus desabafos e conversas íntimas com os meus filhos e parentes, amigos e amigas, que conhece as minhas passwords para entrada nas minhas contas bancárias, que tem afinal o segredo dos meus segredos.
Ler tudo o que nos aparece é presentemente um desassossego. Estava eu decidida a deixar de comprar uma determinada marca de comida para o meu cachorro, porque tinha sido confrontada com os horrores praticados sobre animais em experiências feitas pela empresa que é detentora da marca, e eis que o animal adoece sempre que mudo de marca de comida. Horrorizada com as actividades da Yahoo! fornecendo às autoridades chinesas informações particulares sobre um jornalista que o conduziram a uma prisão injusta, eis que reparo que a Google e a Microsoft se prestam a actividades semelhantes.
Eu não vivo sem computador, sem um motor de busca.
O meu cachorrinho morre com outra marca de comida.
Tenho de optar: dou de presente o computador no próximo Natal e passo a cozinhar para o cachorro ou fecho os olhos à evidência.
8 comentários:
Li deliciado este seu depoimento e
a lucidez (cá vem a palavra) que a
respectiva escrita, sem gaguejar, entra pelos nossos olhos, arrepia o
estomago, e coloca-nos a consciên-
cia em alerta máximo.
Ainda não lhe tinha conhecido este
lado, jawwaa, mas também confesso
que, quando nos conhecemos, não fiz
todo o rabalho de casa: ler muito
para trás. Aprende-se imenso com
isso, mas o imperialismo que nos fornece certas hamburgas aperta-nos
contra a parede e rouba-nos também
o tempo.
Preparemo-nos para receber Mugabe.
Até breve
Rocha de Sousa
Interessante, gostei.
Se os direitos do homem ainda não são universais, poderão ao menos via a sê-lo?
O «fantasma» da arbitrariedade de certos poderes instituidos. O autoritarismo e o conservadorismo social, ainda assim, não impedem que façamos a seguinte pergunta:
- Os termos «liberdade, igualdade, solidariedade e responsabilidade» têm o mesmo sentido e são compreendidos da mesma maneira nos quatro cantos do mundo?
«Sei por mim próprio que os exilados se alimentam de esperança» (Ésquilo - c.526-456).
Obrigado pela visita.
Até sempre
Paulo Sempre
O dedo na ferida...
Querida Jawaa
_______qual a situação dos direitos do homem no mundo e qual tem sido o contributo da União Europeia para esta temática?
O Parlamento Europeu votou na última quinta-feira um relatório sobre o impacto das políticas comunitárias nos direitos do homem em 2006 e focou a sua atenção em casos internacionais como a China, a Rússia, o Iraque, e ainda a região de Darfur, no Sudão, que se apresenta como um teste sério à credibilidade do recém criado Conselho das Nações Unidas para os Direitos do Homem
Durante a apresentação do relatório, Coveney abordou a situação actual da China e referiu que se encontra "preocupado pelo facto do país ser responsável pela maioria das execuções a nível mundial" e que "a situação dos direitos humanos na China permanece uma séria preocupação".
O relatório apela à necessidade de "fortalecer e melhorar consideravelmente o diálogo sobre os direitos humanos entre a União Europeia e a China, referindo os Jogos Olímpicos de Beijing em 2008 como uma boa ocasião para o fazer
"O poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente."
( John Emerich Edward Dalberg-Acton )
___________excelente post
beijO c/ carinhO
Olá Jawwa
A China, essa potência emergente que nos está a causar problemas!
Fizeste-me lembrar o "Clube Bilderberg", os senhores do mundo, são esses que nos controlam.
Livro muito interessante que me causou arrepios ao inteirar-me de certas realidades.
O teu texto está óptimo, com o requinte habitual.
Que tenhas um lindo fim-de-semana
Abraço
E eis que o comentário do "nosso" Rui dispensa o que eu estava para dizer! :-)
Hoje, num instantinho entre o fim da preparação do meu trabalho de amanhã e a leitura de um par de folhas (não mais) do livro que me acompanha, decidi vir aqui ler-te mais um pouco. Aprecio as tuas reflexões e a forma como as expressas. Em boa verdade, esta coisa de andarmos a deixar oo nosso rasto a toda a hora, ainda é bicho que nos há-de devorar! :-P
Tem, sff, uma belíssima semana.
Deixo-te um abraço! :-)
Enviar um comentário