«Parece, de súbito, que não está na sua cama, mas sim num jardim incrivelmente viçoso, de um verde mais do que verde: uma visão platónica de um jardim simultaneamente simples e misterioso, sugerindo, como todos os jardins sugerem, que, enquanto a velha de xaile dormita no banco de ripas, qualquer coisa viva e antiga, uma coisa que não é nem benévola nem malévola e exulta apenas na continuidade, entrelaça e une o mundo de quintas e prados, florestas e parques. Virgínia move-se pelo jardim sem poder dizer-se que anda: flutua nele, qual pluma de percepção, incorpórea. O jardim revela-lhe os seus canteiros de lírios e peónias, os seus caminhos de saibro debruados a rosas cor de creme. Uma donzela de pedra que o tempo se encarregou de amaciar ergue-se na beira de um tanque cristalino e medita de olhos postos na água. Virgínia desliza pelo jardim como que impelida por uma almofada de ar; começa a compreender que existe outro jardim debaixo deste, um jardim do mundo subterrâneo, mais maravilhoso e terrível do que este e que é a raiz de que nascem estes relvados e estas pérgulas. É a genuína ideia de um jardim e está longe de ser tão simples quanto é belo.»
Michael Cunningham
4 comentários:
Um gato ensinou-me o caminho até aqui... Peço perdão por não ter convite.
Obrigado pelas imagens que rasgam a vista e as palavras de tão belo texto.
Lindo!...
Olá Jawaa
Lindo!
A imagem (escrita) de um lindo jardim, onde só vemos a ponta do iceberg!
As fotos estão "super"!
Abraço
Adoro este livro! Adoro o filme! E estão lindas, as tuas fotografias!
Enviar um comentário