"Eu escrevo por necessidade de escrever, porque para mim é a procura de um espaço de libertação, um espaço que transcende as limitações da existência as suas contingências, as suas vicissitudes e é o encontro com o espaço, se for possível, de serenidade, de tranquilidade, de eliminação; é um espaço que de certa maneira se relaciona com o cosmos, com a terra: É por isso uma relação com a terra no sentido em que esta pode ser ainda uma espécie de origem, de espaço em que o homem respire.""A poesia tem sido para mim uma forma de libertação. Não se pode dizer que seja uma expressão simples, fácil, o que a poesia procura é algo que de certa maneira ela não consegue admitir. Quer dizer, a finalidade do poeta é escrever, criar um texto que tenha uma certa coerência, que tenha a coerência da incoerência (como diz um crítico francês). Mas é o que está para além das palavras, é o horizonte das palavras e é realmente o que é fundamental. Não só as palavras poéticas me fascinam mas aquilo para que elas apontam, o horizonte para que apontam, o espaço para que elas se dirigem é que é realmente a realidade imaginária e real; essa é que é a finalidade porque há em nós algo que é indefinível, incomunicável e indescritível. O poeta pode suscitar a possibilidade de tornar actual (no sentido real) certas virtualidades, que se concentram no desejo do homem, numa espécie de corpo que ele quer encontrar, como que penetrar nesse corpo /uma criação, mas também uma realidade exterior, cósmica)."
António Ramos Rosa, numa entrevista concedida a Patrícia Valinho a 20-11-1986
8 comentários:
Um bela semana de férias.
;-)
O tempo presta-se para nos divertirmos, aos sons e cheiros de verão.
um beijinho
Boas férias, se é o caso! Gostei de ler ARR. Uma reflexão muito profunda. **
pela parte que me toca, nem de férias consigo deixar de escrever...se não o faço engendro as histórias mentalmente....
Uma sensível escrita (e escolha). Bjinhos
Por vezes,as ideias encontram-se «arrumadas» na memória de forma múltipla e flexível.
Esta memória é como o bibliotecário de uma grande biblioteca: ainda que não tenha lido os livros todos, sabe por onde ir para encontrar cada um.
A necessidade de passar para a escrita, essas "ideias arrumadas na memória", torna-se, por vezes, num «grito» silencioso. Um «grito» que, teimosamente, procura dizer: estou aqui!
Foi atravez dos apelos desse grito que, certo dia, passei por este blogue. Agora, sempre que posso, passo por aqui para «abraçar» o «espírito» das palavras.
Beijo
Paulo
Gosto de ler «António Ramos Rosa» Obrigado pela partilha.
Começa hoje a verdadeira Odisseia, não de Homero, mas da Kalinka...estás curiosa?
Então...
vem espreitar:
Uma dessas comodidades são as ruas subterrâneas, uma verdadeira cidade por baixo de ------, que permitem que a população transite sem precisar de casaco, botas, gorros e luvas. Ali, a temperatura é normal, talvez até um pouco quente demais. Na cidade subterrânea, as principais ruas do centro são interligadas por túneis, passagens para peões e escadas rolantes que ligam prédios comerciais, estações de metro, áreas de lazer, cinemas e hotéis, facilitando a vida dos peões. São mais de 30 km de extensão, onde as pessoas se encontram protegidas. Os turistas ficam fascinados com isso e, quando voltam da viagem, é só no que falam, como se em ______ não houvesse nada mais interessante que isso.
Bom domingo.
Bom dia, espero que se sinta tão bem como a borboleta da animação transcrita. O roubo a Ramos Rosa
é sempre oportuno porque ele sabe o lugar determinado das coisas e,
no caso em referência, a vida pul-
sante da escrita, a vontade imperativa de dizer o homem e de dizer o mundo. Obriga-nos a rever
trajectos e o ruído ensurdecedor
de uma pose silenciosa. Quando eu
trabalhava para a televisão, vi na sakla de edição, oum trecho com Ramos Rosa: alguém falava para ele, mas o realizador mandara o câ-
mara fixar-se no rosto do poeta. O
off foi muito demorado (aliás era
para refazer) e Ramos Rosa, visto
da objectiva da câmara parecia es-
perar que o mundo acabasse para lhe escrever um epitáfio simples.
Estes desencontros que anunciam novos encontros ou paradoxos estão por aí: é só pesquisar os rostos
numa esplanada. Há dias defrontei-me com uma bela fotografia da Mar-
garida Homem de Mello, uma actriz jovem que admiro: era uma foto de página inteira e ao lado diziam que ela ía interpretar a personagem
do «Eu, Camila». Foi como se senti-
se magoado. Fotografei a fotografia
e fui para o «desenhamento» escrever «Um Doloroso Erro de Casting». Então percebi o que pode
significar este erro na indirecta
pedagogia da interpretação da Margarida.
Estou no Algarve, na casa que era dos meus pais e que eu tornei, sem
grandes obras, no lugar de reencon-
tros, comigo e com as imagens em
transformação.
Tenho internet aqui
Um abraço
Rocha de Sousa
Gostei do filme!
Ah, agora já tenho foto...a minha dona lá se decidiu!
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