Quem me enviou este poema popular desconhece o autor da recolha, mas não resisto a publicá-lo aqui.
AI SE SEÇE
Se um dia nós se gostaçe
Se um dia nós se quereçe
Se nós dois se impariaçe
Se juntim nós dois viveçe
Se juntim nós dois moraçe
Se juntim nós dois drumiçe
Se juntim nós dois morreçe
Se pro céu nós assubiçe
Mas porém se acontesseçe
Que São Pedro num abriçe
A porta do céu e fosse
Te dizer qualquer tuliçe
E se eu me arriminaçe
E tu com eu insistiçe
Pra que eu me arresolveçe
E a minha faca puxaçe
E o bucho do céu furaçe
Tarvez que nós dois ficaçe
Tarvez que nós dois caiçe
E o céu furado arriaçe
E as virge toda fujiçe.
Zé da Luz
Nota: O título AI SE SEÇE (verbo SER), é do linguajar do matuto (sertanejo, nativo do sertão) que quer dizer mais ou menos: SE ACONTECER...
3 comentários:
Gostei deste momento de partilha.
Bjs. Boa semana.
Expressões no como dizer, com tanto sentimento e sabedoria.
Muitas das vezes a formação das palavras e das frases, à mistura de sotaques, mais a vivência cultural, leva a surgir coisas destas carregadas de alma, de vida, de valores humanos.
Gostei muito.
Um beijinho
Estive a ler o seu belo texto e, ao atender um telefonema, voltei a operar deixando a sua página aberta. Quando me apercebi disso (houve logo um sinal presumo que de segurança)dei então com o poema
espantoso que você partilha connosco. Foi bom. Estas coisas (por isso compreendo antropólogos e arqueólogos)deixam-nos ao mesmo tempo fascinados e inquietos. Penso: como gostaria de recuar para inovar ou inovar tanto que avançasse mesmo.
É bom ter a sua companhia. A minha
sobrinha não deixou passar nada.
E é bom conhecer pessoas como você.
Rocha de Sousa
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