quarta-feira, julho 11, 2007

Lusofonia



Quem me enviou este poema popular desconhece o autor da recolha, mas não resisto a publicá-lo aqui.


AI SE SEÇE


Se um dia nós se gostaçe

Se um dia nós se quereçe

Se nós dois se impariaçe

Se juntim nós dois viveçe

Se juntim nós dois moraçe

Se juntim nós dois drumiçe

Se juntim nós dois morreçe

Se pro céu nós assubiçe

Mas porém se acontesseçe

Que São Pedro num abriçe

A porta do céu e fosse

Te dizer qualquer tuliçe

E se eu me arriminaçe

E tu com eu insistiçe

Pra que eu me arresolveçe

E a minha faca puxaçe

E o bucho do céu furaçe

Tarvez que nós dois ficaçe

Tarvez que nós dois caiçe

E o céu furado arriaçe

E as virge toda fujiçe.

Zé da Luz



Nota: O título AI SE SEÇE (verbo SER), é do linguajar do matuto (sertanejo, nativo do sertão) que quer dizer mais ou menos: SE ACONTECER...




3 comentários:

veritas disse...

Gostei deste momento de partilha.

Bjs. Boa semana.

naturalissima disse...

Expressões no como dizer, com tanto sentimento e sabedoria.
Muitas das vezes a formação das palavras e das frases, à mistura de sotaques, mais a vivência cultural, leva a surgir coisas destas carregadas de alma, de vida, de valores humanos.
Gostei muito.
Um beijinho

Rocha de Sousa disse...

Estive a ler o seu belo texto e, ao atender um telefonema, voltei a operar deixando a sua página aberta. Quando me apercebi disso (houve logo um sinal presumo que de segurança)dei então com o poema
espantoso que você partilha connosco. Foi bom. Estas coisas (por isso compreendo antropólogos e arqueólogos)deixam-nos ao mesmo tempo fascinados e inquietos. Penso: como gostaria de recuar para inovar ou inovar tanto que avançasse mesmo.
É bom ter a sua companhia. A minha
sobrinha não deixou passar nada.
E é bom conhecer pessoas como você.
Rocha de Sousa