quarta-feira, março 29, 2006

Salve!


O melro, eu conheci-o:
Era negro, vibrante , luzidio,
Madrugador, jovial;
Logo de manhã cedo
Começava a soltar, d’entre o arvoredo,
Verdadeiras risadas de cristal.
E assim que o padre-cura abria a porta
Que dá para o passal,
Repicando umas finas ironias,
O melro, d’entre a horta,
Dizia-lhe: «bons dias!»
E o velho padre-cura
Não gostava daquelas cortesias.

O cura era um velhote conservado,
Malicioso, alegre, prazenteiro;
Não tinha pombas brancas no telhado,
Nem rosas no canteiro:
Andava às lebres, pelo monte, a pé,
Livre de reumatismos,
Graças a Deus, e graças a Noé.
O melro desprezava os exorcismos
Que o padre lhe dizia:
Cantava, assobiava alegremente;
Até que ultimamente,
O velho disse um dia:

«Nada, já não tem jeito! Este ladrão
dá cabo dos trigais!
Qual seria a razão
Por que Deus fez os melros e os pardais?»

Guerra Junqueiro

Tu sabes, mon Chagris, um pardal, já vimos o que lhe fizeste.

Agora anda um melro cantador pelo território que partilhas com o Matisse.

É vivo e ladino e vai fazer-te negaças .
Mas vai encher-te as pupilas e alongar-te o corpo em jeito de ataque,
de cauda a abanar de excitação.

É todo teu.

1 comentário:

jawaa disse...

Os desabafos também aqui vão, o maroto do bichano trincou-me um pardalito! Mas ontem era dia do seu segundo aniversário e merece bem uma oferta minha pelos longos ronnnnnnnnns que me dá quando partilha as minhas manhãs pela cozinha...
Obrigada sempre por comunicar.
Beijinho