No nosso Portugal é
uso antigo,
Depois da ceia alegre
em chilreada,
Fazer-se à noite a
reza costumada,
P’ra que o Senhor nos
livre do Inimigo.
Rezava o pai o terço
com a piedade,
Que já seus pais
outrora tinham tido;
E num tom religioso e
comovido,
Respondiam os filhos
com bondade.
E a Maria, uma moça
donairosa,
Balbuciava baixinho e
descuidosa
Esta prece, que só um
anjo tem
Quando a caminho para
Deus se vai:
«Santa Maria, Mãe de
Deus, rogai
Rogai… p’lo nosso
amor, para sempre. Amen.
«Rezas à Noite», José Marques
da Cruz
Cantado por Luiz Goes
A
composição que hoje abre esta postagem pode situar-se historicamente no
rescaldo das reacções católicas à Questão Religiosa da 1ª República, devido ao pendor nacionalista e conservador que alguns lhe atribuem. Isso
não lhe retira a qualidade de uma das mais belas canções de Coimbra na voz
saudosa e inigualável de quem a divulgou.
Foi por esta viagem às
vozes de Coimbra (Luiz Goes foi contemporâneo de José Afonso) da minha
juventude, e mais concretamente a este poema e à história dele, que me acudiu a
velha máxima de que a História se repete. E a História repete-se não é mais do
que constatar que os homens regem quase sempre da mesma maneira perante
estímulos semelhantes. E estamos nas eleições acabadas de acontecer nesta
Europa cada vez mais à deriva, numa
França – assustada com a sua segunda maior cidade transformada em Magrebe no
seu melhor! – e logo a França(!), a colocar os votos na mão da extrema-direita,
como se isso fosse a cura de todos os males. Estamos numa Europa em que mais de
130 dos deputados eleitos são contra a União Europeia.
Portugal
pelo menos vota na esquerda, numa esquerda desejável, como um dia votou em
massa num PRD incapaz, como votou num BE inoperante, como votou agora no MPT
porque deu voz a alguém que aponta o dedo, sem peias, à corrupção que grassa em
todos os campos. E finalmente a abstenção numa percentagem avassaladora, dizendo
bem do descontentamento de quem se sente injustiçado e impotente.
É
preciso, é urgente, preservar a democracia. Não sendo a perfeição desejada por muitos,
é com certeza a única organização política que dá voz a todos os cidadãos. E é
preciso que as suas vozes se façam ouvir, não fazê-lo é omitir-se e é ferir a
democracia. Eu não votei nas últimas eleições, não votei determinadamente; senti-me
mal por isso, mas foi bom tê-lo feito. Deu para pensar repetidamente no assunto
e chegar à conclusão de que é preciso inverter esta situação e não é com avisos
ou pedidos de dirigentes em quem ninguém acredita que se chega lá. Também não é
com obrigações, não é com portarias que se resolve o assunto.
Alguns
comentadores falaram nisto, sem soluções precisas. Eu penso que seria eficaz retirar
benesses do Estado a quem não participasse nas eleições (Dar para Receber).
Mas, antes de avançar, fazer reflectir sobre o assunto, largamente. Se o Estado
existe, é porque o Estado somos nós, e isso o povo em geral parece desconhecer.
Se o Estado existe, tem de ser gerido e nós temos de pagar, é algo em que o
povo não pensa. Se o Estado existe, e o Estado somos nós, temos de saber o que
é o Estado, o que faz, como faz, quando faz, onde faz. Se o Estado existe,
alguém tem de o gerir e ser bem pago por isso, mas porque somos nós que
pagamos, temos de ser muito exigentes e saber onde está o nosso dinheiro. Não
podem os dirigentes – que nós elegemos e a quem nós pagamos – decidir num dado
momento que os seus salários são aumentados em 5% e no mesmo momento decidir que os salários do povo têm de ser
diminuídos em 10%.
E
não faz o menor sentido, convenhamos, que aqueles que nós elegemos devam ser
guardados em redomas, não faz sentido que sejam cidadãos diferentes de nós.
Nós, o povo. Tudo isto porque eles também são do povo, eles são o povo. Que eu
saiba, nem sequer somos , ainda, um país monárquico.
1 comentário:
concordo...discordo... rss
tenho porém plena convicção que não votar uma "saída em falso"
beijo.
("foi bonita a festa, pá! ...")
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