Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.
Álvaro de Campos
Eu não tenho esta alma de poeta, decididamente.
Quero apenas não sentir tudo o que me assola, tudo o que me invade por todas as fendas que o cérebro inventa para mim. Quero não ouvir o chamamento dos bichos o grito da dor deles, quero não olhar os troncos desvalidos sem voz pousados no céu, não ver a imensidão de brancos pintados a azuis plúmbeos, nem sequer imaginar o lago quieto e manso bordejando a cidade.
Não ver, não tocar, não sentir coisa alguma. Fechar os olhos e com eles todas as torrentes que manam por dentro das pálpebras e se enrolam em nuvens escuras, todos os sons tinindo dentro de mim quando tudo deveria estar quieto.
Que a quietude chega sempre depois do vento. Desce em degraus suaves e caminha em silêncio, devagar, não vá acordar os sons, os murmúrios, os cantos, os brados, recrudescer em trovoadas.
Há sempre em nós o lado bom da esperança, da fé em qualquer coisa que é sempre um deus, seja ele o espírito dos mortos, uma imagem em barro, em talha dourada ou o último herói.
3 comentários:
Que cada um acredite em Deus como bem o conceber. E mais do que isso, que cada um acredite em si mesmo e nas coisas boas que é capaz de fazer, pois, se Deus está em todo lugar, ele tb está dentro de cada homem e de cada mulher.
E vc é poeta sim!
Abraço,
Daniel
gosto desse lado "panteista" (?) da vida...
muito belo. teu texto
beijos
Penso que será o Canadá (onde está parte do teu coração...), branco e ouro, lindíssimo.
Neve que será água livre, rio que corre ou lago quieto. Vemos e ouvimos: nada sabemos mas sentimos as dores das palavras!
Enquanto leitoras "das coisas" que nos vamos descobrindo: é curioso que penso como o teu pai! Uma grande tormenta, juntaria as pessoas numa grande reconstrução onde talvez as mentalidades "renascessem" de tantos anos obscuros (ainda acho!!!). Até a guerra em África nos era ocultada, sonegada. Sofríamos quase em silêncio, espantados e compungidos, nós aqui. A não ser a família dos combatentes (e esta agarrava-se à igreja e aos desígnios de Deus...) aos outros não era permitido ter opinião ou rebelar-se. E era preciso tratar da vidinha que era dura...Eternamente amordaçados por não tomarmos, aparentemente, partido. Toda a confusão que se gera entre o que se diz e o que se faz. Eu também ando confusa, cansada. Tantos patos opinadores ...e tantos patos "bravos", sem estatura. A esperança, procuro-a, espreito-a nos olhos dos novos.
Um beijinho J.
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