domingo, outubro 14, 2007

Prémio Nobel


Rosalinda, se tu fores à praia, se tu fores ver o mar,
cuidado não te descaia o teu pé de catraia em óleo sujo à beira-mar,
cuidado não te descaia o teu pé de catraia em óleo sujo à beira-mar.

A branca areia de ontem está cheínha de alcatrão.
As dunas de vento batidas são de plástico e carvão,
e cheiram mal como avenidas, vieram para aqui fugidas a lama, a putrefacção.
As aves já voam feridas, e outras caem ao chão.

Mas na verdade, Rosalinda, nas fábricas que ali vês
o operário respira ainda, envenenado, a desmaiar, o que mais há desta aridez.
Pois os que mandam no mundo só vivem querendo ganhar,
mesmo matando aquele que morrendo vive a trabalhar.

Fausto



O prémio Nobel atribuído à causa nobre do ambiente parece vir repor em primeiro plano o que vinha sendo demasiado esquecido, principalmente pelos grandes do mundo. O homem que foi preterido para a Casa Branca – ao que parece, algo indevidamente – em favor de uma personalidade controversa no seu comportamento perante as sociedades vigentes, veio dar a razão ao povo de que, afinal, Deus escreve direito por linhas tortas.

Al Gore, se estivesse à frente do comando de um país que continua a dar cartas pela força do dólar, não teria tido tempo de empenhar-se em conferências, em livros, em filmes, em viagens contínuas por uma causa que interfere com a sobrevivência da humanidade. Na verdade, alertar a opinião pública para o aquecimento global, quando os factos surgem cada vez mais próximos, cada vez mais urgentes, em face do afastamento das maiores potências industriais do Protocolo de Quioto, obrigar a acordar para a preservação do meio, para a defesa do ambiente, foi um passo memorável.

Sem que se possa considerar já um reflexo do que é referido acima, acabo de ler a divulgação de uma iniciativa da revista Visão que irá emitir uma publicação ainda este mês, denominada VISÃO VERDE e vai estar na base de entrega de árvores aos municípios, anunciando oficialmente a plantação de um milhão de carvalhos, só na Serra da Estrela. Nada poderia vir tão a propósito. Aqui, como sempre, vai faltando o apoio estatal para a proibição – leram bem palavra, sim, numa altura em que tudo se controla, controle-se pelo menos o que se deve – de plantação desenfreada de eucalipto, uma árvore que todos sabemos não fazer parte da flora natural da Península, uma árvore que esgota rapidamente as reservas de água num país sobre o qual pende a ameaça de desertificação, uma árvore que propaga facilmente os incêndios. Também propaga o dinheiro mais rapidamente, mas para nosso bem e dos vindouros, nesta altura «outros valores mais altos se levantam».

O homem que inventou a dinamite, continua a dinamitar consciências.


5 comentários:

rui disse...

Olá Jawaa

O texto Rosalinda de "Fausto", é um mimo de delicadeza, está lindo!

A tua visão sobre o ambiente, vem ao encontro daquilo que eu penso.

A "Visão Verde" é uma grande ideia!
Esperemos que o homem tome consciência dos malefícios que anda causando no meio ambiente, porque Deus pode não estar sempre disponível para escrever direito por linhas tortas. :)

Abraço, Jawaa

Buda Verde disse...

o homem nasceu para ser o seu principio o eu seu fim.

Espero que quem vá dirigir o país do dolares tenha visão que o mundo está em perigo.

beijo.

Rui Caetano disse...

UMa questão actual e muito pertinente.

Fragmentos Betty Martins disse...

Querida Jawaa

______quem não consegue ouvir os gritos por socorro da_____ Mãe Natureza!??

Excelente post

Beijinhos com carinho

naturalissima disse...

Belo!
Temos aqui um excelente alerta...
gosto de te ler... e porque ando ainda acorrer, passei para "descansar" os meus olhos.
Continuação de uma boa semana