«O tipo tem tanto sentido de humor quanto um rafeiro com sarna. Não aprecia a vida. Na minha opinião passou demasiado tempo
O tempo invade a minha disposição, entra na pele, mergulha nos ossos e a alma treme. Muitas vezes sofrendo por antecipação. Este Outono manso, a encolher os dias, puxando a noite com uma brisa que já não é, antes vento que sopra e se entranha, lembra-me o Inverno que vai chegar e me pára o sangue.
Agora a chuva é bem-vinda para eu respirar mais fundo e aceitar os dias menos quentes, as noites mais longas. Vou ter por companhia o crepitar do lume na lareira, o estalido dos troncos de azinho, oliveira, contando histórias de gentes e bichos de outros tempos, de Torga e Aquilino e até Junqueiro, com melros zombeteiros de alma romântica no seu melhor.
Mas as noites anunciam-se demasiado longas. Como a vida se espreguiça para além do que é lucidamente desejável. Como o progresso alucinado que torna tudo breve, sem tempo para bater compassado, numa arritmia que incomoda porque o corpo já perdeu a firmeza, a agilidade, a fortaleza, a magnitude. E a graça.
Resta a experiência de vida que obriga a fincar os pés no chão, a olhar a chuva miudinha que faz brotar a relva, a ouvir a música dos beirados, a deixar que os ventos troquem o rumo dos dias de ontem e de amanhã.
E não perder a capacidade de amar.
4 comentários:
Sensações que partilho, que tão bem conheço...de tão perto...
Bjs. Boa semana.
Belo!
Gostei muito de lêr esta passagem tão carregada de sensações!
Gosto também quando me visitas.
;-)
Uma boa semana
Belíssimas, as tuas palavras melancólicas.
Lindo!
Uma aragem genial soprou aqui!
Abraço
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