O regresso às origens deve ter o seu tempo em cada um de nós.
Nunca voltar porque os outros voltam.
Não voltar se nunca o tempo for propício.
– tarde soalheira! Florões amarelos o cicio do vento
nos ramos balançando balançando dos altos eucaliptos.
Para além do olhar amplo mar manso das crianças
um olhar contendo a confiança nos homens
e a certeza de vida no futuro
Para além deste par enamorado um ao outro harpando
a doce música do amor
Para além desta meiga presença de minha mãe
na carta que ontem me escreveu
Para além de quanto me dá esta emoção positiva, eu vejo
a mão no arado, a mão no tear, a mão na enxada, eu vejo
o tubo de ensaio suspenso da mão paredes subindo debaixo
da mão
a agulha na mão debaixo da mão tachos no fogo que a mão
domou, eu vejo
cabeças na escora da mão pensando aumentar da mão o
poder, eu vejo
o livro na mão o Homem a Mão, eu vejo
o trabalho crescendo na Paz criadora oh a Paz
– o modo humano da existência fecunda!»
Viriato da Cruz
Nova Lisboa – Angola, 1953
3 comentários:
Olá minha amiga,
Gostei muito do poema, pelo poema em si e porque acabaste de me apresentar um poeta que apesar de dispensar apresentações eu não conhecia.
Cruzam-se todos os caminhos e os das palavras também. Não me tinha ainda cruzado com as palavras dele e filo hoje através de ti que considero entre muitas outras coisas pelo bom gosto e sensibilidade literária.
O regresso à infância, às origens, faço-o permanentemente, vou e venho, vou em busca do sorriso perdido e que nem lembro e regresso vazia de sorrisos.
Regressava.
Agora encontrei em mim sorrisos novos.
Talvez os novos me deixem encontrar os outros passados e perdidos mas que acredito terem existido um dia.
Um grande abraço
Isabel
Bom encontro, sem dúvida.
Gostei muito. Não conhecia.
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