Ah!
quando eu voltar...
Hão-de as acácias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei...
A minha alegria enorme de poder
enfim dizer:
Hão-de as acácias rubras,
a sangrar
numa verbena sem fim,
florir só para mim!...
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei...
A minha alegria enorme de poder
enfim dizer:
Voltei!...
Alda
Lara
Fotografia retirada da Net
Nasci
em África. Na cidade mais linda do grande planalto do centro de Angola, a
cidade que não foi aldeia ou vila, já nasceu cidade para ser a capital do
Império.
Império,
que nome grandioso para um país tão pequeno. Também a Inglaterra, não mais que
uma ilha, continua a manter o sonho que não é mais do que isso. Doris Lessing,
a escritora a quem foi proposta há alguns anos a honra de se tornar Dame do
Império, declinou o título, por negar a existência de qualquer império. Parece
inquestionável que o único império que se mantém é o da Língua de um e outro
país, semeada pelo mundo, e unificadora na sua variedade.
Portugal
viveu em África na memória dos que por lá deitaram raízes, pelos motivos mais
diversos. A minha geração cresceu a ouvir falar dos vinhedos e dos soutos, da
cor das folhas da oliveira, cresceu na esperança de um dia conhecer o Mondego,
as varinas, usar capa e ouvir tocar Paredes, cantar o Zeca Afonso, o Góis, o
Camacho. Lisboa era toda ela um monumento, o Algarve não existia. A civilização
estava aqui e nós estávamos lá por acidente. Aquilo não era terra «para um
cristão viver», os funcionários do Estado tinham direito a uma licença «graciosa»
com viagens pagas, para vir recompor a sua saúde durante seis meses em cada
quatro anos, seis meses sempre alongados para um ano completo.
A
nossa liberdade de jovens começava no dia do embarque para a Metrópole. O
princípio da liberdade e o fim do sonho, o acordar para a vida que nada tinha a
ver com aquilo que os outros diziam, a sensação estranha de sermos estranhos, a
crescer então a capacidade de olhar do alto e perceber como somos grandes e tão
fortes para podermos sobreviver entre nós, Portugueses. Porque é certa a
dificuldade de sobrevivência em muitos aspectos, apenas porque somos Portugueses, dada a nossa incapacidade para compreendermos e aceitarmos os que são mais do que nós,
os que se afirmam depois por méritos lá fora, tantos da Ciência e da Arte e do
Desporto, ilustres desconhecidos ou depreciados cá dentro e, mais do que isso, inaceitados
por uma maioria cada vez mais inculta, inaceitados pela generalidade dos que são
menos dotados.
E
são esses menos dotados que gerem agora o destino dos que ficam, condicionados
pelo fascínio do dinheiro, repetindo do exterior o que aqui não tem lugar, surdos
ao pulsar das gentes, indiferentes ao sofrimento e à angústia dos que não têm qualquer
saída. Portugal não é um país pobre. Pobre de espírito é quem governa para as
elites pisando o povo.
2 comentários:
tempos amargos, sim...
uma amargura pulsante. pronta a explodir...
sabes do meu prazer em ler-te. sempre.
beijo
mediocridade e incompetência, oportunismo e má índole. que nojo!
um grande abraço, jawaa.
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