Escrever seria amar-te? Seria
interromper este deserto limpar a ferida aberta?
Seria entrar no interior do centro fresco
percorrer essa praia que ninguém ainda pisou
beijar os teus sinais e a sede límpida
que desenha toda a chama alta do teu corpo?
Escrever seria estar contigo no interior da chama
beber o orvalho das palavras nos teus lábios?
No interior de um barco de folhagem verde
Animado de um braço intensamente vivo
Ligando-me cada vez mais à linguagem do teu corpo?
interromper este deserto limpar a ferida aberta?
Seria entrar no interior do centro fresco
percorrer essa praia que ninguém ainda pisou
beijar os teus sinais e a sede límpida
que desenha toda a chama alta do teu corpo?
Escrever seria estar contigo no interior da chama
beber o orvalho das palavras nos teus lábios?
No interior de um barco de folhagem verde
Animado de um braço intensamente vivo
Ligando-me cada vez mais à linguagem do teu corpo?
António Ramos Rosa
Escrever é constantemente a
expressão de uma revolta que a mão que risca ou digita não pára de sacudir.
Sejam os protestos de amor, seja o lamento da dor ou tão simplesmente o exaltar
de uma natureza que vibra de acordo ou em contrário do que o autor das linhas
sente no momento em que escreve. Constatação ou incógnita, há sempre um
desconforto que tem de ser eliminado por dentro, sob pena de desfraldar um
rosto de melancolia, de soltar-se em lágrimas de afectos raramente
correspondidos, pelo menos da forma e no momento mais esperados.
E porque temos o dom da palavra,
porque soubemos desenvolver a grafia dela, porque somos seres racionais,
verbalizamos o possível e enredamo-nos na beleza do acto, olhando-o como uma
criação nossa, divina porque já de um modo quase irracional, sem que se desenhe
mais que o tremor da mão que enrola a caneta nos dedos, os dedos que dedilham a
máquina, a máquina que responde na hora, que apaga, que remove os pensamentos
entornados a esmo, quantas vezes sem tino, soluçados, desfeitos, incapazes de
se ordenarem em poemas, menos ainda em escrita linear e aberta, com vírgulas no
lugar certo, com pontos para respirar, com parágrafos para mudar de assunto.
Quando não se pode, quando não se
sabe escrever, fica o prazer da leitura que apazigua. Fica o poema verdadeiro
que conduz à paz das palavras certas, descansando nas interrogações que pousam
em metáforas de sensualidade, sugerindo o corpo que se afaga com a mão no papel
macio, as palavras escritas em sulcos, manchando a pureza dele, quem sabe a
tinta colorida a tornar mais belo o enlace.
Alguém soube, antes, falar assim no
terror da folha em branco?
3 comentários:
terror rima
com amor...
verdadeiro deleite - ler-te.
beijo
A força das tuas palavras e do teu pensamento. Fabulosamente belo.
Escrever ou ler, sim. E por vezes
escreve-se a ler. Sobretudo para
quem percorre os caminhos do texto
desta forma, sob o tecto de bons
poetas e de belas imagens.
Sim, sim, as flores, eu ainda sei.
João
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