Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
Creio na Deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes,
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o Amor tem asas de ouro. Ámen.
Natália
Correia
É o cansaço dos anos, a soma, o peso deles, a
agilidade a escoar-se pelos dedos cada vez mais tortos, grossos, como a chuva
pela terra adentro a cada inverno, o medo do sol a saudade dele.
É olhar o espelho e ver a imagem desfocada, cada vez mais longe
a apagar-se na distância e no ruído, o ruído apenas onde soçobra a razão, a
febre desviando as memórias, sem tino e sem medo entrando em delírios. O ontem
grandioso a segurar as raízes fundas, a ditosa pátria minha amada, o hoje são
as areias enchendo a barra, afogando o rio, deixando-o sem corrente, sem viço,
sem vida.
O sangue arterial a escoar-se pelos aeroportos, o venoso a
correr pelas veias cheio de coágulos a tentar respirar pelos olivais os raros
pinhais, as vinhas novas os sobreiros antigos, a História a escrever-se por
outras regras, quem sabe o fado a cumprir Portugal, a diáspora sempre presente
na alma de um povo que não cabe no espaço exíguo da face da Europa, o olhar
perdido no Atlântico, o corpo apoiado nos outros continentes.
Atrás, bem atrás dos holofotes dos media distribuindo carros
e dinheiro em jogos de azar, para além da propaganda das grandes superfícies
auferindo benesses fiscais com o capital dos clientes, para além da
contribuição voluntária de cada um, há afinal em cada lar mais um Natal que
chega, sem ouro e sem mirra, mas um dia, uma noite de Consoada em que a família
se reúne em Acção de Graças em roda da manjedoura, da fogueira que aquece.
Ficou-me da infância esta inclinação pela noite da Consoada,
a noite de todas as alegrias, de todas as esperanças, a noite em que o convívio
das crianças e adultos era autorizado noite adentro, só porque o dia seguinte
era Dia de Natal. Assim haja para todos uma refeição de paz, assim haja para
todos a esperança de um dia diferente a chegar, sem burro e sem vaca, mas com
uma estrela dentro.
3 comentários:
Não vai haver, Jawaa, e nós sabemos! Para muita gente não vai haver qualquer esperança! E é triste, tão triste! Que triste se tornou este mundo...
(também acho que os espelhos estão desfocados...)
texto carregado de afectos e de memórias. abrindo-se a esperança dos homens...
ou não fora o Natal, de alguma forma, a humanização do divino!
beijos
Dolorosas e ao mesmo tempo com esperança estas tuas magníficas reflexões.
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