De repente vi que estava triste, mortalmente triste,
Tão triste que me pareceu que me seria impossível
Viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
Mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada.
Tão triste que me pareceu que me seria impossível
Viver amanhã, não porque morresse ou me matasse,
Mas porque seria impossível viver amanhã e mais nada.
Fernando Pessoa
Americano dos Estados Unidos, leia-se no título, porque a América é todo um continente e um mexicano dizer-se americano seria uma ofensa para os estadunidenses, como bem lhes chamam os brasileiros, uns e outros com o mesmíssimo direito de se dizerem americanos. Até na expressão linguística, para além da língua tornada universal, até nisso o poder dos Estados Unidos se estendeu pelo mundo, com o direito de se considerar a maior potência mundial quando outras potências se erguem já, perto e longe, paulatina e seguramente, em todos os sectores, desde a economia ao armamento.
O 11 de Setembro não mudou coisa alguma na vida efectiva do comum dos americanos, para além de acender guerras sem quartel que em dez anos lhes desmantelou a economia, os obrigou a suspender o investimento na Investigação e Ciência, deixou os pobres mais pobres e fez florescer as indústrias ligadas à guerra tornando os ricos ainda mais ricos. Combater o terrorismo é uma falácia perante as evidências dos interesses económicos subjacentes, falar em defender os direitos humanos é uma enormidade, se atendermos às necessidades prementes de povos subjugados e massacrados em vários países africanos, se olharmos à miséria que as guerras provocadas no Médio-Oriente produzem em grande escala.
Ser americano é sentir-se protegido em qualquer ponto do globo, só por sê-lo. Ser americano é ser intocável, e apenas esta noção mudou na consciência de alguns, poucos, que deram conta da sua vulnerabilidade da maneira mais cruel. Não foi pelo número de pessoas desaparecidas que o mundo se chocou, porque muitas mais se afundam em valas comuns em genocídios que continuam a perpetrar-se sem que haja disso visibilidade. O que chocou verdadeiramente foi a forma utilizada – à altura de uma América – atingida no centro vital, na cidade vital, no centro vital da defesa, no pulsar da economia, na certeza da segurança.
A Europa quedou-se estarrecida porque se sabia vulnerável, jogando com a única arma que a pode salvar: a educação para a civilidade, a tolerância entre os povos, a compreensão e a verdadeira democracia que tem de unir todos os estados europeus, se quiserem continuar na linha da frente no que toca à preservação dos valores universais de humanidade, igualdade e fraternidade, que conduzem à paz possível, à liberdade possível.
É a velha Europa que tem de saber dar-se as mãos e partilhar a prosperidade, não mais desejar perder-se na ostentação à custa dos mais fracos. Exigir, sim, um esforço comparável entre os seus membros para um resultado favorável a todos; dar o mau exemplo de explorar os mais desatentos ou menos hábeis é desumano e inglório. Os europeus querem o respeito que a sua História lhes merece, só a união e a harmonia lhes darão a sabedoria necessária para enfrentar os novos desafios do século.
4 comentários:
excelente! excelente...
como eu admiro o teu olhar vibrante ( e sereno ) sobre as coisas e acontecimentos...
beijos
Comungo do teu ponto de vista.
Que foi exposto de uma forma excelente.
Querida amiga, tem um bom resto de domingo e boa semana.
Beijos.
Muito certa e intensa a sua vontade
afirmativa após o aniversário do 11
de Setembro.
Grandes, os norte-americanos inven-
taram o triunfo capitalista, embora
tomados de cegueira diante das pe-
riferias que a Alemanha considera
como se sabe.
Claro que sim, o 11 de Setembro não
mudou o mundo, mas atrapalhou a história: porque alguém atingiu o gigante à sua escala, porque as ré-
plicas «sísmicas» criaram uma ca-
deia de guerras, de derrapagens
financeiras e económicas, sacudin-
do a Europa de senhoras velhas e xenofobias perturbadoras. Se não
houver a tal inteligência serena,
a guerra global atravessará países
de sucesso e bandoleiros que enchem
a Suiça e outros buracos assim de todo o dinheiro que escasseia aos
pobres-cad-vez-mais.
Há quem diga que a tragédia pode
trazer a redenção, mas as mentiras
que se colam à leitura do 11 de Se-
tembro podem levar ao futuro sinais
de uma assombrosa maldade. Porque
hoje sabe-se, na perfeição, que as
torres derreteram a 1500 graus e não sob os 800 do impacto fabuloso
do avião de passageiros.
Houve quem dissesse sobre esse acto
de terrorismo internacional:
«Foi, sem dúvida, a maior obra de arte jamais produzida pelo homem».
Perigoso, o dito, no rasto da per-
formance e seus efeitos.
tudo bem?
beijo
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